05/03/2012

Romance sobre primeira cangaceira brasileira tem lançamento na Biblioteca Pública do Estado da Bahia



No próximo dia 9 de março (sexta-feira), às 18h, será lançado na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, nos Barris, o livro Anésia Cauaçu, do escritor e jornalista jequieense Domingos Ailton.

A obra é um romance histórico, social e regionalista, que tem como protagonista uma mulher que esteve à frente do seu tempo.



Anésia foi a primeira mulher no sertão baiano de Jequié a ingressar no cangaço, a liderar um bando de cangaceiros, a praticar montaria de frente, já que as mulheres de sua época montavam de lado em uma sela denominada silhão, e a vestir calças compridas (as mulheres do período em que ela viveu apenas usavam vestidos e saias) nos momentos de combate para facilitar o enfrentamento de jagunços dos coronéis e das tropas policiais, além de ter sido a primeira mulher branca a lutar capoeira, antecedendo mulheres como Maria Bonita, Dadá e Lídia no cangaço.

“Este romance nasceu de um desafio feito pelo amigo e confrade da Academia da Letras de Jequié, o historiador Émerson Pinto de Araújo, que, em seu livro Capítulos da História de Jequié, afirmou que Anésia Cauaçu necessitava ser relembrada e reapreciada e que isso era um desafio para os estudiosos e ficcionistas da atual e futuras gerações.

Anésia tem uma dimensão tão grande que não cabe apenas nos estudos sociológicos. Por isso, resolvi escrever este romance, baseado em fatos reais, mas que tem muito do imaginário individual e coletivo. A ficção tem este poder de representar o imaginário”, conta o escritor Domingos Ailton.

Diversos capítulos têm como base fontes históricas – os jornais A Tarde e Diário de Notícias do período da República Velha, principalmente dos anos de 1916, 1917, 1920 e 1930. “O arquivo de jornais antigos e o projeto que possibilitou acessar através de terminais de computadores edições antigos do jornal A Tarde, que existem na Biblioteca Pública do Estado da Bahia foram essenciais como fonte para que pudesse escrever este romance histórico”, ressalta o romancista.

O livro se reporta à formação de Ituaçu, antigo Brejo Grande e às brigas de duas famílias da localidade: os Silvas, chamados de "rabudos", e os Gondins, denominados de "mocós". O major Zezinho dos Laços (um dos líderes dos “rabudos”) exige que Augusto Cauaçu acompanhe seu grupo de jagunços em uma emboscada contra a família Gondim.

Por conta da recusa de Augusto, este é assassinado a mando de Zezinho dos Laços. Então, a família Cauaçu se reúne e resolve vingar a morte, assassinando Zezinho dos Laços seis anos depois em uma tocaia na Fazenda Rochedo, com uma bala feita do chifre de um boi preto, que fora confeccionada pelo pai de santo Heitor Gurunga, um sacerdote da religiosidade afro que cuidava do povo pobre da região.

O irmão de Zezinho, Cassiano do Areão, o cunhado, coronel Marcionílio de Souza e o filho deste, Tranquilino de Souza, passam a perseguir e matar membros da família Cauaçu e do bando de cangaceiros que acompanha o grupo, comandado por Anésia e seu irmão José Cauaçu.

Anésia Cauaçu lidera e enfrenta vários combates com coragem e uma força extraordinária, já que, em muitos momentos, ela "envulta" (desmaterializa), transformando-se em uma rocha ou toco de árvore.

O governador da Bahia na época, Antônio Muniz, que denomina o movimento armado dos Cauaçus de "conflagração sertaneja”, envia para Jequié e região mais de 240 soldados, fora os oficiais, para combater os Cauaçus, que passam a utilizar táticas de guerrilha para enfrentar à polícia.

Em um dos combates, José Cauaçu é ferido e morre 8 dias depois. Anésia é presa, mas depois é libertada, quando concede entrevista de primeira página na edição de 25 de outubro de 1916 do Jornal A Tarde sobre a história do bando.

A força policial pratica uma série de arbitrariedades contra a população jequieense e da região. O alferes Francisco Gomes faz um homem comer lama no povoado do Baixão, crucifica outro nas margens do Rio das Contas e lança crianças para o ar, que são amparadas com a ponta das baionetas, além de ordenar a matança de muitos outros inocentes cujo genocídio é denunciado na imprensa baiana por veículos, como Diário de Notícias e Jornal A Tarde.

O romance se reporta também a episódios envolvendo personagens históricos da República Velha e da Revolução de 1930 e seus reflexos em Jequié e na Bahia.

A trama ficcional faz referências ainda às manifestações religiosas e da cultura popular do sertão, como as festas de terreiros de Candomblé, os festejos de São João, do Reisado, aos livretos de cordel e aos adjuntórios, às figuras típicas, como o tropeiro e o mascate, e ao famoso Cabaré do Maracujá, que havia em Jequié e era encontro dos intelectuais e de gente simples do povo. Conta também o romance entre Anésia Cauaçu e o mascate Afonso, um dançador de forró e mulherengo que se apaixona pela catingueira.

O romance Anésia Cauaçu se baseou em narrativas orais de pessoas que ouviram histórias relacionadas aos Cauaçus ou que mesmo chegaram a conhecer personagens do romance, como a centenária Alvina Ferreira, que morreu com 112 anos e conviveu com Anésia Cauaçu, ou Braulino Antônio de Souza, que morreu aos 96 anos, não sem antes ter conhecido o pai de santo Heitor Gurunga. A obra procura também preservar a pronúncia e a morfossintaxe popular.

Palavras e expressões da variante linguística do catingueiro das primeiras décadas do século XX foram conservadas. “Anésia Cauaçu pode ser considerada uma meta-narrativa histórica em que eu procuro, na ficção, revelar fatos históricos e acontecimentos presentes na memória coletiva através da tradição oral”, revela o romancista.

Domingos Ailton é mestre em Memória Social e Documento pela Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), membro da Academia de Letras de Jequié e da União Brasileira de Escritores - UBE, editor da Revista Cotoxó e diretor regional do Sinjorba.

Serviço:

O quê: Lançamento do livro O Verdadeiro Paraíso, de Carlos Ventura

Quando: Dia 09 de março (sexta-feira), às 18h

Onde: Quadrilátero da Biblioteca Pública do Estado da Bahia -Barris– Salvador.

Entrada: Franca

Informações: 71 8122-7231

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