22/07/2019

Espetáculo ‘Os Demônios’ volta a cartaz no Teatro Vila Velha




Em meio à convulsão social e política, vinte atores incorporam o espírito da crise. Nesta adaptação contemporânea do clássico mundial "Os Demônios", romance político-filosófico do escritor Fiódor Dostoiévski, a polifonia frenética dos jovens revolucionários de uma cidade russa do século XIX se choca, explode e encontra ressonância nos impasses e possibilidades existenciais do mundo atual. Encenado por Daniel Guerra e adaptado por Bárbara Pessoa o espetáculo volta a cartaz no dia 15 de agosto, no Teatro Vila Velha e fica em temporada até 08 de setembro, as sextas, sábados e domingos. As Sextas e sábodos as 20 horas e domingos 19 horas. A primeira montagem do espetáculo foi em novembro de 2018, com presença massiva do público soteropolitano. Agora, em agosto de 2019, estreará o mesmo espetáculo com uma nova roupagem. No palco, os atores incorporam a polifonia tresloucada de vozes e corpos daqueles jovens russos que inspiraram Dostoiévski na sua crítica cruel à sociedade e à proporção trágica que as divergências políticas podem tomar. Revela-se, portanto, uma vigorosa via experimental enquanto processo, que acata as mudanças radicais da época e a própria transformação da ideia original através do tempo. Daniel Guerra traz aos palcos uma outra visão, tendo como base a primeira versão. Agora o espetáculo se apresenta mais cru, mais selvagem, de onde o teor filosófico e existencial do texto sobressai, sem perder o ritmo frenético dos demônios dostoievskianos. Quem viu a primeira temporada se surpreenderá com as mudanças possíveis de ponto de vista a partir de um mesmo tema, e quem ainda não viu, terá a chance de presenciar uma montagem vigorosa de um clássico da literatura, proposta por uma equipe soteropolitana que traz toda a carga de experimentação que o teatro contemporâneo pode proporcionar.


Dostoiévski e “Os Demônios”

Dostoiévski escreveu “Os Demônios” inspirado num fato verídico, o assassinato de I. I. Ivanov, um estudante revolucionário, executado pelos seus próprios companheiros de grupo, e a liderança de tal ato por S. G. Nietcháiev, um jovem niilista. A partir daí Dostoiévski ficcionaliza os fatos, e ao fazê-lo, reelabora com maestria as questões políticas e existenciais, filosóficas e sociais. O humano é escancarado pela pena cruel do escritor russo, que, longe de tomar partido de um lado ou de outro no complexo mundo político da época, escolhe ver a coisa de dentro, e sentido ele mesmo tais dores convulsivas, faz-nos vivenciar e criticar a turbulência do plano geral. No universo dostoievskiano não há uma moral última, não há lados a escolher, as definições morais e éticas surgem apenas das bocas dos personagens, e portanto, são sempre relativizadas por seus atos. Num país e numa época onde a cada passo se pede que nos definamos de um lado ou de outro, um golpe a uma só vez corrosivo e poético na sociedade como um todo pode revelar sempre uma beleza inusitada, como o faz Dostoiévski. Ao fim, é sempre a inteligência que será conclamada ao centro do jogo.


Temas centrais

Nesta adaptação encontram-se os temas existenciais que despontam durante qualquer crise sócio-política: a relativização ética quanto ao valor da vida humana, como por exemplo a ideia de assassinato justificada por causas políticas, o suicídio como fuga ou redenção em meio a uma sociedade cruel. Há também um olhar preciso sobre como uma liderança política pode passar da influência à manipulação, e em como a energia erótica presente em qualquer confluência coletiva em torno de uma figura autoritária pode se transformar na mais cruel violência. A emergência do autoritarismo, até entre indivíduos que apostam em valores libertários, é exposta de maneira precisa. A adaptação aborda ainda o conflito geracional que caracteriza a história da sociedade moderna ocidental, e suas consequências políticas no nível macro e micro estrutural. Esses e muitos outros temas são marcantes na escrita de Dostoiévski, trazidos à tona agora por uma equipe de mais de vinte profissionais baianos, num Brasil atordoado pelos rumos políticos atuais.


Serviço
O quê: Os Demônios — Outra Versão
Onde: Teatro Vila Velha
Quando: 15 de agosto a 08 de setembro. De sexta a domingo, com uma única quinta-feira de estreia, dia 15 de agosto. Quinta, Sextas e sábados 20h, Domingos 19h.
Quanto: R$30 inteira/ R$15 meia



Ficha técnica

Encenação:
Daniel Guerra
Concepção original (Primeira versão):
Amine Barbuda e Daniel Guerra
Adaptação dramatúrgica:
Bárbara Pessoa e Daniel Guerra
Elenco:
José Carlos, Mariana Freire, Ludmila Brandão, Leopoldo Vaz, Carlos Caio, Robério Almeida, Kadu Fragoso, Thor Vaz, Clara Romariz, Felipe Benevides, Nicole Leão, Mari Gavim, Rafael Brito, Victor Fernandes, Talis Castro, Águeda Tavares, Eduardo Sena, Milena Nascimento, Jota Júnior, Loiá Nascimento.
Direção musical:
Heitor Dantas
Desenho de Som:
Luciano Simas
Criação dos instrumentos cênicos / Músico em cena:
Eudes Henriques
Iluminação:
Marcus Lobo
Figurino:
Alexandre Guimarães
Arte Gráfica:
Lia Cunha
Produção:
Agnes Oliveira, Fernando Emerenciano e Josy Miranda
Assessoria de imprensa:
Josy Miranda
Realização:
Laboratório Permanente

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