17/05/2013

Afródromo esquenta seminário sobre Carnaval



FOTOS: Edgar de Souza.

Evento segue com programação no período da tarde no teatro Jorge Amado, na Pituba

Um retorno à tradição. A cultura seguindo lado a lado com o entretenimento. Essa é a síntese do debate "Carnaval em movimento: do Afródromo às Fanfarras", mediada pelo vereador Moisés Rocha (PT), que encerrou a manhã de trabalhos no Panorama Carnaval - seminário realizado pela Comissão Especial do Carnaval, da Câmara Municipal de Salvador (CMS). O evento será encerrado na tarde dessa quinta-feira (16), no Teatro Jorge Amado, na Pituba.



Na discussão sobre as diversas manifestações culturais que se apresentam na maior festa de rua do planeta, Alberto Pitta, presidente do Cortejo Afro e da Liga dos Blocos Afro, apresentou o projeto original do Afródromo e relembrou a história de alguns blocos que já não existem. "É uma pena. Eu adoro blocos de índio, mas hoje infelizmente só temos dois e o esvaziamento dos afros, afoxés e blocos de índio é consequência desse formato que o Carnaval assumiu".



Segundo Pitta, o Afródromo não se resume a ter um circuito próprio, mas sim a requalificar os blocos, fazendo-os participar de forma digna do Carnaval de Salvador. "A indumentária é importante e depois de muito tempo eu voltei a me dedicar a criar modelos de tecidos. O Carnaval precisa de memória. Precisamos resgatar essas tradições com as fantasias, a decoração", afirmou.

A decoração também foi fator lembrado por Sérgio Bezerra, presidente da Associação Carnavalesca das Entidades de Sopro e Percussão - pioneiro em antecipar o Carnaval para a quarta-feira, na Barra, com "um grande baile ao céu aberto". "A decoração está esquecida. Ninguém fala mais sobre a cidade, sobre a caracterização. O que precisa não é de circuito novo e sim do melhor aproveitamento do espaço que já temos. Circuito não se faz da noite para o dia", afirmou. Sérgio contou que na Barra já são mais de 30 blocos de sopro e percussão na quarta-feira, oficializada, inclusive, pelo Conselho Municipal do Carnaval (Comcar). "As famílias podem ir juntas para a rua, com crianças, para relembrar os antigos Carnavais e tudo com muita tranqüilidade".

O painel contou ainda com a presença de José Luiz Lopes, mais conhecido como Arerê, presidente da União das Entidades de Samba da Bahia (Unesamba). Ele apresentou o pioneirismo da Caminhada do Samba, que abre a temporada das festas populares antecedentes à folia momesca, sempre no último domingo de novembro em homenagem ao Dia do Samba (comemorado 2 de dezembro). "O samba que já é forte na quinta, sexta e sábado merece maior exposição através da cobertura das televisões no período da noite. O samba já traz a plasticidade como atrai artistas nacionais e público de todas as idades".

Novos espaços, mas sem quarto circuito

A necessidade de criar novos espaços para o carnaval de Salvador foi defendida pelos três debatedores do primeiro debate do dia, na manhã desta quinta-feira (16), no Teatro Jorge Amado (Pituba). O painel "Espaço público: novas opções para o carnaval de rua" foi mediado pelo vereador Claudio Tinoco (DEM) e contou com as presenças do presidente da Associação Brasileira de Entretenimento da Bahia (Abre-BA), Ricardo Lélis; da diretora de Eventos da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Eliana Dumet; e do radialista e ex-coordenador do carnaval, Cristóvão Rodrigues.

Eliana concorda que a folia momesca precisa de passar por renovações, necessita de mais espaços, porém não necessariamente a criação de novos circuitos. Apesar de não poder ainda divulgar o conteúdo do projeto que vem sendo elaborado pelo Grupo de Trabalho formado já na quarta-feira de Cinzas, a diretora da Saltur deu algumas pistas. Uma delas seria o fortalecimento das manifestações culturais já existentes em vários bairros da cidade no período da folia, além de implantar o modelo de captação de recursos da iniciativa privada para realização de eventos em Salvador, sem custo para a prefeitura, o ano todo.

"O carnaval de Salvador é um case de sucesso mundial. Temos que propor erros novos. Vamos lançar chamamentos para o cadastro de entidades que queiram se apresentar, mas elas precisam se regulamentar. A proposta da Saltur é considerar pré-carnaval o ano todo e não apenas eventos de outubro a março. Vamos agregar espaço, tecnologia. Vai ser lançado o caderno de encargos e esperamos que a iniciativa privada abrace e invista", anunciou Dumet. "Temos que ouvir o que o povo, os foliões querem. O carnaval sempre foi assim, as mudanças sempre aconteceram pela vontade espontânea do povo", completou Cristóvão.

Ricardo acredita que nada vai mudar no carnaval se não passar por um planejamento estratégico de novos espaços e afirma que a ideia do Afródromo não é a segregação, mas uma segmentação. "Como fazer gestão de novos espaços? O poder público precisa reconhecer que não tem capacidade estrutural e financeira para fazer isso. Ao invés de travar o processo, ele deve estimular a iniciativa privada a fazer, como já acontece no Rio. Segregação não é a mesma coisa de segmentação, como é a ideia do Afródromo. Precisamos acabar com este discurso de que tudo é segregação, ao contrário, é segmentação".

Panorama

Pela tarde o "Panorama Carnaval" continua com os seminários "Novos Rumos para o Carnaval de Salvador" e "Carnaval da Bahia, que loucura essa mistura", que marca o encerramento do encontro, às 16 horas, com presenças de Aroldo Macedo, Gerônimo e Ricardo Chaves.

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