26/10/2010

“LUZ NEGRA” É UM GRITO DE AMOR EM UM MUNDO ABSURDO

Espetáculo com Caica Alves, Evelin Buchegger e Leonardo Mineiro estreia dia 28, no Teatro do Movimento. Direção Rino Carvalho*

Uma tentativa desesperada de compreender a crueldade e a insensibilidade dos homens é a tônica da peça “Luz Negra”, texto premiado do dramaturgo salvadorenho Alvaro Menen Desleal (1931-2000), encenado em dezenas de países e em vários idiomas, desde a sua estreia em 1964. Uma nova montagem desse relato fantástico, inédita na Bahia, estreia no próximo dia 28, quinta-feira, no Teatro do Movimento (Escola de Dança da UFBA, em Ondina), e fica em cartaz até 30 de outubro, às 20 horas. Ingressos R$ 20,00(inteira).

A direção do espetáculo é de Rino Carvalho e no elenco estão Caica Alves, Evelin Buchegger e Leonardo Mineiro. Maquiagem, Marie Thauront; A montagem foi contemplada com o Edital Manoel Lopes Pontes da Funceb/Secretaria da Cultura do Estado da Bahia. No Dia 4 de novembro “Luz Negra” continua a temporada 2010, dessa vez no Portela Café, no Rio Vermelho, às 20 horas, quintas e sextas, até dia 26 de novembro.

*A PEÇA *–* Goter* e *Moter -* um político e uma ladra que foram decapitados em praça pública não sabem se estão vivos ou mortos. Suas cabeças encontram-se próximas a um corpo híbrido, em um lugar ermo, sem referências, “talvez um lugar abandonado por Deus”, diz o diretor Rino Carvalho. Ele explica que na peça original a ladra era um personagem masculino, e o corpo, figura extremamente simbólica, representava vários personagens, como um cego, uma menina e um faxineiro. Nessa adaptação, o corpo é um único e enigmático personagem. Já o político em cena não representa o sentido estreito da palavra, mas o filosófico e o social da política. Ele é
esperançoso, sincero e acredita no ser humano. Por sua vez, a ladra, oriunda da alta sociedade, tem uma visão oposta, soberba e arrogante e afirma que não se envolve com política.

*Razão e emoção -* “Luz Negra” é um espetáculo de visual e sensibilidade
incomuns. Exige muito dos intérpretes; o cenário, a luz, a trilha sonora e a
maquiagem são interferências estratégicas para compor o ambiente de um
realismo fantástico. As duas cabeças gritam a céu aberto a palavra “amor”.
Mas elas não gritam para os políticos que legitimaram o seu degolamento, e
sim para o fundo do coração do homem comum. “Luz Negra” poderia ser apenas o
desejo de liberdade ou de justiça, mas o autor foi além, e fala de um mundo
individualista, globalizado e paradoxal, onde, nas fronteiras abertas para
todos os lados, a emoção é considerada uma pedra no caminho. É o conflito
entre a razão e a emoção.

Outra adaptação de Rino Carvalho foi trazer o texto político de Desleal para
um viés místico-religioso, mais próximo da cultura brasileira. O diretor
também optou pelo realismo fantástico no lugar do teatro do absurdo. “O
texto é o mesmo, mas o realismo fantástico nos permite a liberdade para
criar uma situação que não é a nossa realidade, desde o lugar, a sonoridade,
as estranhezas, os personagens.

Tanto que na peça, aquilo que os personagens estão vendo e vivendo não é o mesmo que o espectador percebe. Segundo Carvalho, “Luz Negra” mostra que a vida perdeu o valor, e que o ser humano é somente estatística na mídia, na televisão. “Não importa o que se fez ou faz, ninguém nos ouve. Por outro lado, curiosamente, não importa o lugar onde você esteja; bom ou ruim, você sempre vai reclamar, porque isso é intrínseco no homem.”

*Valores humanos - *O ator Caica Alves explica que o projeto de montar esta
peça inédita em Salvador foi uma iniciativa sua, e que há 10 anos vem
lutando para conseguir os direitos. Ele manteve contato por telefone com o
próprio dramaturgo salvadorenho, um ano antes da sua morte. “Rino trouxe uma
nova concepção para a peça, ao deslocar o texto de uma coisa muito imediata
para algo mais dilatado e que permite novos significados. Ele pisou fundo no
realismo fantástico”, diz Caica.

Por sua vez, o ator Leonardo Mineiro destaca que a peça “é um espetáculo instigante, para tirar as pessoas de um lugar comum. É uma inquietação artística para provocar no público uma reflexão sobre os valores humanos.” Ele comenta que os três atores têm
afinidades estéticas sobre o que pensam do teatro, “e isso nos une em nosso trabalho.”

Também a atriz Evelin Buchegger comemora esse novo papel: “A gente trabalhou
muito tempo os clássicos, as pesquisas, os textos mais densos, as comédias”.
Por isso estava com saudade de fazer algo assim, como Luz Negra, uma peça
que considera diferente. Para ela, esse espetáculo “é uma reflexão muito boa
sobre o estar atento para o aqui e agora, e uma mensagem para que a gente
plante coisas boas, sempre.”



*Rino Carvalho** (diretor)- *É* *bacharel em Artes Cênicas e Direção Teatral
pela Universidade Federal da Bahia, e possui habilitação profissional para
ator pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul, SP. A soma de várias
experiências profissionais, inclusive como assistente de direção,
figurinista e maquiador, resulta em espetáculos de visual bastante elaborado
e de sensibilidade incomum. Entre os seus trabalhos marcantes estão
“Esperando Godot” (Prêmio Copene de Teatro – Revelação) e “Extraordinárias
Maneiras de Amar”como diretor; a ópera “Il Trovatore”, como assistente de
direção, e “Divinas Palavras” e “Murmúrios”, como ator.



*Caica Alves* *(ator) -** *Atua no teatro baiano desde 1984 como ator, autor
e diretor. Foi indicado duas vezes para o Prêmio Copene de Melhor Ator pelas
peças “Esperando Godot”, com direção de Rino Carvalho, e “A Hora da
Estrela”, com direção de Meran Vargens. Atuou nas peças “Murmúrios” e
“Divinas Palavras”, sob a direção de Nehle Franke. **

*Evelin Buchegger** (atriz)** - *Possui um reconhecido currículo de
atuações no teatro, cinema, rádio e televisão. Faz parte da Companhia de
Teatro da Bahia, dirigida por Fernando Guerreiro, onde atuou nas montagens
“Carne Fraca”, “Noite na Taberna”, “Idiotas que Falam Outra Língua”, “Boca
de Ouro” e “Um Bonde Chamado Desejo”, onde foi protagonista. Venceu três
prêmios de Melhor Atriz pelas peças “Idiotas que Falam Outra Língua”,
“Brasis” e “Murmúrios”. Atuou também em “Divinas Palavras”, “Otelo” e
“Merlin ou a Terra Deserta”, entre outras. No cinema, trabalhou em “No
Coração de Shirley”, “Cheque-Mate” e “Anjo do Sol”.

*Leonardo Mineiro** (ator) -** *Bacharel em Interpretação pela Escola de
Teatro da Universidade Federal da Bahia, tendo atuado em espetáculos desde
2000, quando participou do XV Curso Livre de Teatro da UFBA, sob a
coordenação de Hebe Alves. Entre outras montagens, participou de
“Murmúrios”, com direção de Nehle Franke e Elisa Mendes, e protagonizou “O
Pagador de Promessas”, com direção de Caio Lincoln. Desenvolve pesquisa
voltada para o trabalho do corpo do profissional de artes cênicas, a partir
das técnicas e linguagens do Teatro Contemporâneo e conhecimentos de outras
áreas, a exemplo da Psicoterapia Corporal e técnicas de integração somática
do Hatha Yoga.

*Alvaro Menen Desleal** (contista e dramaturgo - 1931- 2000)- *Nasceu em
1931, na cidade de Santa Ana, em El Salvador. Fez parte da chamada “Geração
Comprometida”, em um país cuja história no século XX foi marcada por
governos militares repressivos, lutas de guerrilhas e crises econômicas. A
sorte de Álvaro Desleal mudava de governo a governo. Foi exilado político e
foi também adido cultural de El Salvador no México e diretor do Teatro
Nacional. Ingressou na Escola Militar General Gerardo Barrios, da qual foi
expulso, devido à publicação de um poema considerado “subversivo”. Ingressou
no jornal El Diário de Hoy, em 1953, quando foi detido e fichado no quartel
da Polícia Nacional, acusado de conspirar contra o regime do tenente-coronel
Oscar Osório.

Em 1957 retomou a direção das páginas literárias do jornal, e em 1961 foi
estudar Sociologia na Universidade de El Salvador, colaborando com a revista
universitária Vida, ganhando vários prêmios por ensaios como *É Lícito Matar
o Tirano?. * Em 1962 foi nomeado catedrático da Faculdade de Economia da
Universidade de El Salvador. Ganhou inúmeros prêmios nacionais com sua obra
literária, que inclui ensaios, novelas, poemas e peças para o teatro. A
premiada montagem “Luz Negra” tem sido apresentada em dezenas de países e em
vários idiomas, desde a sua estreia em 1964. Desleal morreu em San Salvador,
a capital do país, em 2000.

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* crédito das fotos: Ricardo Castro (divulgação) *

*“Luz Negra” – Ficha Técnica*



Texto: Alvaro Menen Desleal

Direção: Rino Carvalho

Elenco: Caica Alves, Evelin Buchegger e Leonardo Mineiro

Maquiagem: Marie Thauront



Cenógrafo: Euro Pires



Iluminação: Irma Vidal

Produção Executiva: Gabriela Rocha

Assistente de Produção: Marcelle Pamponet

Supervisão de Produção: Selma Santos

Trilha Sonora: Sil Partucci e Alan Carvalho

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*Serviço:***

*O quê: *“Luz Negra”, de Alvaro Menen Desleal. Direção: Rino
Carvalho.

Elenco: Caica Alves, Evelin Buchegger e Leonardo
Mineiro

*Onde:* Teatro do Movimento (Escola de Dança da UFBA) Av. Adhemar de
Barros, Campus de Ondina.

*Quando: *de 28 a 30 de outubro, quinta, sexta e sábado, às 20 horas.

*Ingressos: *R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)

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