05/11/2010

Filosofia e Vida: A vacuidade como um método de liberação da mente

A vacuidade é interpretada com o significado de vazio de perturbações, (sofrimento), ou vazio do ego inferior, quer estimule o insight através da tranqüilidade ou a tranqüilidade através do insight, todos eles culminam numa prática que preenche as tarefas apropriadas a cada uma das quatro nobres verdades do budismo: compreender o sofrimento, abandonar as suas causas, realizar a cessação da perturbação da mente e desenvolver o caminho para a tranqüilidade .

O cumprimento dessas tarefas conduz à liberação da mente no cativeiro das personalidades. O que é distinto neste processo é o modo como ele evolui dos princípios da ação/reação como o método ou meio possível através do qual a tranqüilidade pode ser alcançada.

Embora a maioria das explicações para este método definam a equanimidade como pureza de virtude, a explicação sobre a vacuidade, como um método de meditação, mostra que a equanimidade neste caso também significa a pureza da mente e a pureza da sabedoria. Todos os aspectos do treinamento da mente são analisados ao vê-los como ações e suas conseqüências nas reações. Isso ajuda a desenvolver a integridade que está disposta a reconhecer as ações inábeis e a boa vontade que permanece objetivando conseqüências que impliquem cada vez menos em dano, perturbação e sofrimento da mente.

É nisso que este tipo de vacuidade difere da definição metafísica de vacuidade como sendo a “ausência de existência inerente.” Enquanto a perspectiva metafísica da vacuidade não necessariamente envolve integridade - visto que é uma tentativa de descrever a realidade última da natureza das coisas e não de julgar ações – esta abordagem da vacuidade requer um julgamento honesto das suas ações mentais e dos seus resultados. A integridade é dessa maneira parte essencial dessa habilidade.

Desse modo, os níveis mais elevados de discernimento e sabedoria evoluem não do tipo de conhecimento fomentado pelos debates e pela análise lógica, nem do tipo fomentado pela pura atenção ou a mera notação, mas do conhecimento fomentado pela integridade, desprovido de presunção, unido à compaixão e boa vontade.

A razão disso é tão óbvia que com freqüência passa despercebido: se você quer dar um fim ao sofrimento, precisa da compaixão para ver que esse é um objetivo que vale a pena e da integridade para reconhecer o sofrimento que você causou no passado desnecessariamente e por negligência. A ignorância, que faz surgir o sofrimento, ocorre não porque você não tem conhecimentos suficientes ou não é sofisticado filosoficamente o suficiente para entender o verdadeiro significado da vacuidade.

Ela provém da sua recusa em admitir que o que você está claramente fazendo, diante dos seus próprios olhos, está causando sofrimento. É por isso que a meditação destrói a presunção: ela o desperta completamente da cegueira deliberada que o manteve por todo o tempo cúmplice de comportamento inábil. Essa é uma experiência libertadora . A única coisa honesta a ser feita em resposta a essa experiência é abrir-se para a libertação. Essa é a vacuidade que é superior e insuperável.

Ao formular o caminho para essa vacuidade sobre os mesmos princípios que suportam os níveis mais elementares da ação/reação, o praticante conseguiu evitar a criação de dicotomias artificiais entre a realidade convencional e a realidade última, na prática. Por essa razão, esta abordagem para a sabedoria última ajuda também a validar os níveis mais elementares da mente.

Quando você entender, que a compreensão não distorcida da vacuidade depende
de habilidades que são desenvolvidas com a adoção de uma atitude responsável, honesta
e gentil em relação a todas as suas ações, é mais provável que você trará essa atitude para tudo aquilo que você fizer – grosseiro ou sutil. Você dará mais importância a todas as suas ações e às suas conseqüências, você dará mais importância à sua noção de integridade, pois você compreende que essas coisas estão diretamente relacionadas com as habilidades que conduzem à completa liberação da mente.

Você não pode desenvolver uma atitude descartável em relação às suas ações e respectivas conseqüências, pois você estará jogando fora a sua oportunidade para uma felicidade verdadeira e incondicional. As habilidades que você precisa para se convencer a meditar numa manhã escura e fria, ou para resistir a um trago numa tarde preguiçosa, são as mesmas que no final das contas irão assegurar a realização não distorcida da paz mais elevada.

Assim é como os ensinamentos sobre a vacuidade nos encorajam a exercitar a sabedoria em tudo aquilo que fizermos.

Claudius Caesar Drágon
Professor de Filosofia da UESB

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