31/01/2014

1ª MOSTRA CINEMA DE SANTO


O evento gratuito acontece entre os dias 07 e 13 de fevereiro em Cachoeira e entre os dias 14 e 19 de fevereiro em Salvador.

A 1ª Mostra Cinema de Santo, dedicada às religiões afro-brasileiras e de matriz africana, realizada pela Funceb - Secult/Bahia em parceria com a Ginja Filmes, vai exibir em torno de 40 filmes de longa, média e curta-metragem em Cachoeira (Auditório da UFRB) e em Salvador (Sala Walter da Silveira, DIMAS - Biblioteca dos Barris), entre os dias 07 e 19 de fevereiro de 2014.

A 1ª Mostra Cinema de Santo traça um panorama histórico de filmes brasileiros em diálogo com as religiões afro-brasileiras e de matriz africana. O projeto gratuito contempla uma Mostra retrospectiva de filmes, Mesas de debate, Exposição de cartazes dos filmes em exibição e um Catálogo distribuído gratuitamente.

O conjunto de filmes proposto pela curadoria procura privilegiar, além da variedade destas representações cinematográficas ao longo da história do cinema nacional, aqueles filmes cujo universo das religiões afro-brasileiras aparece como energia motriz ou de atração para narrativas, pesquisas estéticas, formas, idéias e olhares, sejam documentais ou de ficção. Assim, o evento almeja recolocar em pauta a discussão acerca da representação audiovisual do universo religioso afro-brasileiro ou de matriz africana, procurando contribuir para a reativação de um manancial extremamente fértil para a criação e a reinvenção de possibilidades cinematográficas dentro do Brasil.

A relação entre o cinema nacional e as religiões afro-brasileiras remontam de longa data, mais precisamente a partir do trabalho do diretor de documentários Luiz Saia, integrante da Missão de Pesquisa Folclóricas capitaneada na década de 30 por Mário de Andrade. A partir do final dos anos 50, com o seminal O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, essas relações desdobram-se em inúmeras formas de expressão cinematográfica: documentários, filmes de vanguarda e produções comerciais, chegando à variedade presente no ciclo de 70 e culminando com a produção de Egungun, em 1982, e o congresso da SECNEB na Bahia.

A variedade com que os cineastas continuam abordando estas religiões ao longo da história do cinema brasileiro, incorporando livre e criativamente estes elementos em seus filmes, sejam de documentário ou de ficção, é extraordinária: narrativas políticas, tragédias históricas, retratos de gênero, dilemas religiosos e raciais; dramas sociais, filmes de terror, comédias, ficção cientiífica, “thrillers umbandistas” e “chanchadas mediúnicas”; filmes de viés clássico e investigações de vanguarda. Diante disso, e levando em conta a importância que o Cinema de Santo possui dentro da cinematografia nacional, a Mostra pretende reunir parte destes títulos em um panorama histórico bastante plural. Mais do que um recorte temático, a 1ª Mostra Cinema de Santo procura reunir a diversidade do trânsito formal de elementos já ocorrido entre estas religiões e nosso cinema, buscando chamar a atenção novamente às possibilidades de um cinema brasileiro inspirado nas poéticas e representações da umbanda e do candomblé.

Serão programas compostos por longas, médias e curtas-metragens, exibidos durante os 13 dias do evento. Entre o filmes exibidos na 1ª Mostra Cinema de Santo estão O Amuleto de Ogum (1975), de Nelson Pereira dos Santos; Anjo Negro (1972), de José Umberto Dias; As Aventuras Amorosas de um Padeiro (1961), de Waldyr Onofre; Copacabana, Mon Amour (1973), de Rogério Sganzerla; Cordão de Ouro (1977), de Antônio Carlos Fontoura; Egungun (1982), de Carlos Blajsblat; O Fio da Memória (1989), de Eduardo Coutinho; O Fim da Picada (2009), de Christian Saghaard; A Cidade das Mulheres (2005), de Lázaro Faria; Jardim das Folhas Sagradas (2010), de Pola Ribeiro; Devoção (2008), de Sérgio Sanz, entre outros.

Para além da retrospectiva histórica o evento possui como destaque a estréia mundial dos filmes de curta-metragem: “Bodas de Aruanda”, de Chico Sales, e “Iemanjá do Rio Vermelho” de Pablo Pablo e do longa “Umbanda do Sol e da Lua”, além da estréia na Bahia do curta-metragem “Manifesto Makumbacyber”, de Beto Brant e do longa “Hùndàngbènă – O ninho da serpente”.

Teremos ainda a presença do consagrado cineasta Nelson Pereira dos Santos, que participará de um debate após a exibição de seu filme “O Amuleto de Ogum”, na terça-feira, dia 18 de fevereiro na Sala Walter da Silveira de Salvador.

As mesas de debate propõem uma discussão aprofundada das problemáticas presentes na representação cinematográfica das religiões afro-brasileiras, levando em consideração aspectos éticos, políticos, estéticos, espirituais e religiosos a partir de uma perspectiva histórica. As mesas serão realizadas em Cachoeira e serão compostas por cineastas, críticos, professores e representantes das religiões afro-brasileiras. Serão 2 mesas de debate com 1 mediador e 4 convidados cada uma.

- Mesa 1: CINEMA DE SANTO - PANORAMA HISTÓRICO, um panorama histórico do diálogo entre o cinema nacional e as formas religiosas afro-brasileiras, tanto no cinema de ficção quanto no de documentários. Aspectos éticos, estéticos e políticos.

Convidados: Lazaro Faria, cineasta e Luis Alberto Rocha Melo, crítico e professor

- Mesa 2: RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS - A POÉTICA DAS REPRESENTAÇÕES, discutir os processos de transmutação simbólica de um universo a outro, levando em consideração aspectos formais, estéticos e narrativos apresentados pelos filmes. Entender os processos vividos por cineastas que experimentaram profunda aproximação com as religiões afro-brasileiras no fazer cinematográfico, procurando refletir acerca das relações resultantes deste processo.

Convidados: Antonio Godi, ator e Jorge Portugal, educador e poeta.

PROGRAMAÇÃO – MOSTRA CINEMA DE SANTO

CACHOEIRA


07/02 (sexta-feira)

19h Abertura: Sessão de curtas:

DO DIA EM QUE MACUNAÍMA E GILBERTO FREYRE VISITARAM O TERREIRO DA TIA CIATA + MALUNGUINHO + BODAS DE ARUANDA + MANIFESTO MAKUMBACYBER

08/02 (sábado)

15h O ANJO NEGRO + SAI DESSA, EXU!

17h CORDÃO DE OURO + YANSAN

19h COPACABANA, MON AMOUR + VEJA & OUÇA – MARIA BADERNA NO BRASIL

09/02 (domingo)

15h A DEUSA NEGRA + ILÚ OBÁ DE MIN E KUTA NDUMBU

17h SÓLO DIÓS SABE

19h Sessão de Curtas para Iemanjá: ESPAÇO SAGRADO + ORIKI + OFERENDA + IEMANJÁ DO RIO VERMELHO

10/02 (segunda-feira)

15h O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO

17h A CIDADE DAS MULHERES + BAHIA DE TODOS OS EXUS

19h DEBATE Mesa 1: CINEMA DE SANTO - PANORAMA HISTÓRICO, um panorama histórico do diálogo entre o cinema nacional e as formas religiosas afro-brasileiras, tanto no cinema de ficção quanto no de documentários. Aspectos éticos, estéticos e políticos.

11/02 (terça-feira)

15h JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS + ABÁ

17h O AMULETO DE OGUM + UMBANDA NO BRASIL

19h DEBATE Mesa 2: RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS - A POÉTICA DAS REPRESENTAÇÕES, discutir os processos de transmutação simbólica de um universo a outro, levando em consideração aspectos formais, estéticos e narrativos apresentados pelos filmes. Entender os processos vividos por cineastas que experimentaram profunda aproximação com as religiões afro-brasileiras no fazer cinematográfico, procurando refletir acerca das relações resultantes deste processo.

12/02 (quarta-feira)

15h PROVA DE FOGO + POLÊMICA

17h O FIM DA PICADA + NA BOCA DO MUNDO: EXU NO CANDOMBLÉ

19h AS AVENTURAS AMOROSAS DE UM PADEIRO + AMOR SÓ DE MÃE


13/02 (quinta-feira)

15h ATLÂNTICO NEGRO, NA ROTA DOS ORIXÁS + YAÔ – INICIAÇÃO DE UM FILHO DE SANTO

17h DEVOÇÃO + DIA DE ERÊ

19h HÙNDANGBÈNA – O NINHO DA SERPENTE + UMA CIÊNCIA SAGRADA

SALVADOR

14/02 (sexta-feira)

19h Abertura: Sessão de Curtas: DO DIA EM QUE MACUNAÍMA E GILBERTO FREYRE VISITARAM O TERREIRO DA TIA CIATA + BODAS DE ARUANDA + MANIFESTO MAKUMBACYBER + IEMANJÁ DO RIO VERMELHO

15/02 (sábado)

15h ORI + ABÁ

17h O FIO DA MEMÓRIA

19h SÓLO DIÓS SABE

16/02 (domingo)

15h HÙNDANGBÈNA – O NINHO DA SERPENTE + UMA CIÊNCIA SAGRADA

17h Sessão de curtas: ORIKI + OFERENDA + ESPAÇO SAGRADO + MALUNGUINHO

19h DEVOÇÃO + DIA DE ERÊ

17/02 (segunda-feira)

15h O ANJO NEGRO + SAI DESSA, EXU!

17h O FIM DA PICADA + NA BOCA DO MUNDO: EXU NO CANDOMBLÉ

19h AS AVENTURAS AMOROSAS DE UM PADEIRO + AMOR SÓ DE MÃE

18/02 (terça-feira)

15h A DEUSA NEGRA + ILÚ OBÁ DE MIN E KUTA NDUMBU

17h COPACABANA, MON AMOUR + VEJA & OUÇA – MARIA BADERNA NO BRASIL

19h O AMULETO DE OGUM + UMBANDA NO BRASIL

DEBATE com o cineasta Nelson Pereira dos Santos

19/02 (quarta)

15h PROVA DE FOGO + POLÊMICA

17h CORDÃO DE OURO + YANSAN

19h UMBANDA DO SOL E DA LUA


SINOPSES DOS FILMES

LONGAS-METRAGENS

O AMULETO DE OGUM, de Nelson Pereira dos Santos (longa-metragem /ficção/ 112'/ 1975): após o assassinato do pai no interior da Bahia, um rapaz é levado a um terreiro de umbanda onde tem o corpo fechado. O amuleto de Ogum é sua proteção.

COMENTÁRIO DA CURADORIA: Um autêntico “thriller umbandista”, de montagem elíptica e narrativa vertiginosa. Importante produção dentro do ciclo de filmes dos anos 70 inspirados nas religiões afro-brasileiras. A sessão de 18/02 em Salvador contará com a presença do diretor Nelson Pereira dos Santos.

O ANJO NEGRO, de José Umberto Dias (longa-metragem/ficção/80'/1972): Hércules, um juiz de futebol, está em crise na sua profissão e no seu casamento. Surge Calunga, um emissário místico com afinidades com os Exus, que no meio do caos e da desordem propõe um novo mundo. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Produção baiana pouco lembrada e exibida.

O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO (ANTÔNIO DAS MORTES), de Glauber Rocha (longa-metragem/ficção/100'/Brasil-França/1969) - Numa cidadezinha chamada Jardim das Piranhas aparece um cangaceiro que se apresenta como a reencarnação de Lampião. Seu nome é Coirana. Anos depois de ter matado Corisco, Antônio das Mortes (personagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol) vai à cidade para ver o cangaceiro. É o encontro dos mitos, o início do duelo entre o dragão da maldade contra o santo guerreiro. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Razão e misticismo encontram-se regularmente em conflito na obra de Glauber Rocha. Aqui, alegoricamente, a resistência militar armada dos cangaceiros é também mística e espiritual, de ecos africanos, provocando a crise de consciência no mercenário Antônio das Mortes ao abalar sua brutal racionalidade. Não faltam um São Jorge negro, africanizado, e uma Santa de roupagens a um só tempo ibéricas e iorubás.

A DEUSA NEGRA, de Ola Balogun (longa-metragem/ficção/95'/Brasil-Nigéria/1978): Em busca de antepassados no Rio e na Bahia, o intelectual africano Babatunde chega ao Brasil e vai ao candomblé de uma famosa mãe-de-santo pedir orientação para o cumprimento de sua missão. Co-produção Brasil-Nigéria. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Filme estrelado por Léa Garcia, no papel da Deusa Negra.

AS AVENTURAS AMOROSAS DE UM PADEIRO, de Waldyr Onofre (longa-metragem/ficção/109'/1976): o filme narra as aventuras e desventuras de Rita, mulher casada acusada de adultério. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Essencialmente feminista e com um final surpreendente, este filme tem o complemento do curta-metragem de terror Amor Só de Mãe, de Dennison Ramalho, justapondo dois entendimentos bastante diferentes entre si acerca da personagem – ou arquétipo - da Pombogira.

COPACABANA, MON AMOUR, de Rogério Sganzerla (longa-metragem/ ficção/ 85'/ 1970): em uma atmosfera de magia e misticismo, o filme mostra a saga da prostituta Sônia Silk e seu irmão, homossexual que utiliza a macumba como forma de seduzir seu patrão. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Clássico da produtora Belair, fundada por Rogério Sganzerla e Júlio Bressane nos anos 70, Copacabana, Mon Amour coloca as religiões afro-brasileiras em paradoxo: o transe, o misticismo e a servidão dentro de um curto-circuito ideológico marcado pela exclusão e pela precariedade.

CORDÃO DE OURO, de Antônio Carlos Fontoura (longa-metragem/ficção/72'/1977): escravo foge da mina em que trabalha e é levado para Aruanda, onde recebe de seu protetor, Ogum, ensinamentos de capoeira e um cordão mágico de ouro. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Dois filmes que bebem na estética das histórias em quadrinhos: um curta-metragem de animação no melhor estilo japonês do mangá (“Yansan”, de Carlos Eduardo Nogueira), onde Ogum aparece como mecânico de motos futuristas, e um longa-metragem onde a capoeira e a umbanda entrelaçam-se numa narrativa de ficção científica (“Cordão de Ouro”).

SÓLO DIÓS SABE, de Carlos Bolado (longa-metragem/ficção/115'/Brasil-México/ 2005): Dolores (Alice Braga) é uma brasileira, estudante de arte, que vive em San Diego. Quando viaja a Tijuana com suas amigas, ela encontra Damián (Diego Luna), um jovem e místico jornalista mexicano. É um passaporte perdido que os aproxima. Na Cidade do México uma intensa paixão surge entre os dois, mas Damián guarda um segredo que pode separá-los para sempre. O destino conduz o casal ao Brasil, onde Dolores precisa compreender os eventos que a cercam e Damián tem que tomar uma difícil decisão.

O FIO DA MEMÓRIA, de Eduardo Coutinho (longa-metragem/ documentário/ 120'/ 1989): A partir de personagens e situações do presente, o filme procura condensar a experiência negra no Brasil, partindo de dois eixos: as criações do imaginário sobretudo na religião e na música e a realidade do racismo. COMENTÁRIO DA CURADORIA: a partir de “O Fio da Memória”, de Eduardo Coutrinho, e “Ori”, de Raquel Gerber, podemos entender o candomblé e a cultura negra em uma perspectiva materialista, no sentido do antagonismo histórico entre forças sociais, econômicas e políticas que determinam o próprio processo de constituição do Brasil.

A CIDADE DAS MULHERES, de Lázaro Faria (longa-metragem/ documentário/ 71'/2 005) - O filme apresenta-se como uma resposta à Ruth Landes, antropóloga norte-americana que, no ano de 1939, esteve na Bahia pesquisando a raça negra e se surpreendeu com a força e a soberania que as mulheres do candomblé exerciam numa organização matriarcal. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Direção de Lázaro Faria, um dos cineastas mais atuantes na representação audiovisual das religiões afro-brasileiras.

UMBANDA DO SOL E DA LUA, de Sérgio Rossini (longa-metragem/ documentário/ 112'/2013) – Filme em homenagem aos 26 anos do Templo do Vale do Sol e da Lua, apresentando de modo didático e bastante detalhado muitos dos fundamentos esotéricos da umbanda. COMENTÁRIO DA CURADORIA: FILME INÉDITO - um dos destaques da programação, foi inteiramente realizado por uma única pessoa, o diretor Sérgio Rossini, que assina também a câmera e a montagem. Estruturado a partir de depoimentos ao mesmo tempo expositivos e reflexivos, o filme conta com material de arquivo e registros preciosos da fundação desta importante casa de umbanda do Estado do Rio de Janeiro.

O FIM DA PICADA, de Christian Saghaard (longa-metragem/ficção/80'/2008) – Saci, Exu e Satanismo: Macário participa de uma orgia satanista numa praia brasileira no ano de 1850. Na manhã seguinte, inicia sua viagem subindo a serra em direção à cidade de São Paulo, montado em seu burro. No trajeto encontra Exu-Legbara. COMENTÁRIO DA CURADORIA:Livremente inspirado na obra Macário, de Álvares de Azevedo, e com pitadas de Monteiro Lobato, o filme dialoga com o Cinema Marginal brasileiro fazendo uma ponte direta deste com a perspectiva fatalista e ultra-romântica da literatura do século XIX. Filme montado por André Francioli, curador da mostra Cinema de Santo.

JARDIM DAS FOLHAS SAGRADAS, de Pola Ribeiro (longa-metragem/ ficção/ 84'/ 2010) – Bonfim, negro baiano, tem sua vida virada pelo avesso com a revelação de que precisa abrir um terreiro de candomblé. Com os espaços disponíveis cada vez mais raros, ele acaba procurando um lugar na periferia empobrecida e degradada. Afastado da tradição e questionando fundamentos como o sacrifício de animais, Bonfim cria um terreiro modernizado e descaracterizado, o que lhe trará graves conseqüências. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Filme baiano. O diretor Pola Ribeiro atualiza o panorama de abordagem do candomblé no cinema de ficção, levando em conta a problemática da desregulada urbanização brasileira dos últimos anos e questões éticas ligadas a ecologia e a própria liturgia do candomblé.

DEVOÇÃO, de Sérgio Sanz (longa-metragem/documentário/83'/2008) – O que teriam em comum Ogum, o primeiro dos orixás, e Antônio, o bondoso santo casamenteiro? Convertido à força para a fé católica, o negro africano cultuava orixá como se fosse santo, tudo apenas por uma questão de sobrevivência. Devoção aponta o grande mito religioso do Brasil: o do sincretismo, que tem sido entendido até hoje como uma mistura de diversas crenças heterogêneas.

PROVA DE FOGO, de Marco Altberg (longa-metragem/ficção/90'/1980) - Inspirado no livro Guerra de Orixá (1975), da antropóloga Yvonne Maggie, o filme narra a trajetória de Mauro, um migrante nordestino no Rio de Janeiro que como bancário luta para terminar um curso universitário e estabelecer-se como profissional. Estranhamente, Mauro sente perturbações desde menino e nenhum médico consegue resolver seu caso. Ao consultar uma mãe-de-santo, esta confirma sua alta mediunidade. Mauro larga o emprego estável para aprofundar-se no exercício espiritual e em meio a disputas religiosas acaba se tornando um pai-de-santo.

ÔRÍ, de Raquel Gerber (longa-metragem/documentário/91'/1989) – Ôrí documenta os movimentos negros brasileiros entre 1977 e 1988, passando pela relação entre Brasil e África, tendo o quilombo como idéia central de um contínuo histórico e apresentando como fio condutor a história pessoal de Beatriz Nascimento, historiadora e militante negra, falecida prematuramente no Rio de Janeiro, em 1995. O filme mostra também a comunidade negra em sua relação com o tempo, o espaço e a ancestralidade, através da concepção do projeto de Beatriz, do "quilombo" como correção da nacionalidade brasileira. COMENTÁRIO DA CURADORIA: a partir de “O Fio da Memória”, de Eduardo Coutrinho, e “Ôrí”, de Raquel Gerber, podemos entender o candomblé e a cultura negra em uma perspectiva materialista, no sentido do antagonismo histórico entre forças sociais, econômicas e políticas que determinam o próprio processo de constituição do Brasil.


CURTAS E MÉDIAS-METRAGENS

UMBANDA NO BRASIL, de Rogério Sganzerla (curta-metragem/ documentário/ 18'/ 1977) - A religião espiritista brasileira, nascida do sincretismo, da crença e dos ritos mágicos de origem africana, das raízes indígenas e das imagens e símbolos católicos. O filme conta com a participação do médium Mestre Yapacani, referência da umbanda esotérica.

SAI DESSA, EXU!, de Roberto Moura (curta-metragem/documentário/18'/1972) - O filme apresenta o funcionamento de um centro umbandista, as diferenças entre Umbanda e Macumba, a diversidade dos tipos sociais entre os adeptos e frequentadores, o surgimento das grandes federações, as leis que dão liberdade de culto e as fiscalizações aos centros.

MANIFESTO MAKUMBACYBER, de Beto Brant (curta-metragem/ documentário/ 11'/ 2013) – O filme documenta o Manifesto Makumbacyber proferido pelo artista Xarlô em dois eventos distintos: durante uma apresentação do bloco Ilú Obá de Min e no Festival Catarse, ambos ocorridos em São Paulo em 2012. COMENTÁRIO DA CURADORIA: DESTAQUE DA PROGRAMAÇÃO – ESTRÉIA NA BAHIA

ILÚ OBÁ DE MIN E KUTA NDUMBU, de Beto Brant (curta-metragem/ documentário/ 6'/ 2013) – Complemento do curta Manifesto Makumbacyber, o filme registra o depoimento do pintor angolano Kuta Ndumbu após uma apresentação do bloco ILÚ OBÁ DE MIN. Composto por 140 mulheres ritmistas, cantoras, pernaltas e corpo de dança, o bloco abre oficialmente o carnaval da cidade de São Paulo, congregando mais de 15 mil pessoas há anos. COMENTÁRIO DA CURADORIA: DESTAQUE DA PROGRAMAÇÃO – ESTRÉIA NA BAHIA

AMOR SÓ DE MÃE, de Dennison Ramalho (curta-metragem/ficção/20'/2002) - Em uma aldeia de pescadores, acontecimentos macabros se desenrolam numa noite de violência, morte, satanismo e orações à Nossa Senhora da Cabeça. COMENTÁRIO DA CURADORIA: A programação juntou um curta de terror e um longa-metragem de comédia, justapondo dois entendimentos e dois modos de utilização bastante diferentes entre si acerca do arquétipo da Pomba-gira, entidade da quimbanda.

VEJA & OUÇA – MARIA BADERNA NO BRASIL, de André Francioli (curta-metragem/experimental/19'/2004) - Em 1850, a bailarina italiana Maria Baderna chega ao Brasil. Seu sobrenome transforma-se em vocábulo corrente. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Dirigido pelo curador da mostra, o filme elabora sua narrativa a partir de Marietta Baderna, carbonária italiana que chega ao Brasil em meados do século XIX. Lundu, magia e candomblé são suas provas de fogo.

YANSAN, de Carlos Eduardo Nogueira (curta-metragem/ficção/18'/2006) - Yansan, a orixá dos ventos e tempestades, e suas aventuras amorosas com Ogum e Xangô. O poder do mito Iorubá insolitamente contextualizado num Japão futurista. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Dois filmes que bebem na estética das histórias em quadrinhos: um curta-metragem de animação no melhor estilo japonês do mangá (“Yansan”, de Carlos Eduardo Nogueira), onde Ogum aparece como mecânico de motos futuristas, e um longa-metragem onde a capoeira e a umbanda entrelaçam-se numa narrativa de ficção científica (“Cordão de Ouro”, de Antônio Carlos Fontoura).

ATLANTICO NEGRO, NA ROTA DOS ORIXÁS, de Renato Barbieri (média-metragem/documentário/54'/1998): Filmado no Maranhão, Bahia e Benin (África) - terra de origem dos orixás e voduns, onde estão as raízes da cultura jeje-nagô. O filme faz uma viagem no espaço e no tempo em busca das origens africanas da cultura brasileira.

YAÔ – INICIAÇÃO DE UM FILHO DE SANTO, de Maureen Bisiliat (média-metragem/documentário/47'/1970) - Todo o processo de iniciação do Yaô, o noviço que se tornará filho de santo do candomblé: os rituais de purificação, oferendas e sacrifícios que encerram em si toda uma devoção e a caracterização da fé dentro do candomblé. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Filme dirigido pela hoje consagrada fotógrafa Maureen Bisiliat, inglesa naturalizada brasileira e radicada em São Paulo desde a década de 50. Raramente lembrado e exibido, este documentário rodado em 16mm é uma produção da TV Cultura. Com fotografia notável e imagens realizadas na camarinha, o filme foi exibido à época na televisão.

BAHIA DE TODOS OS EXUS, deTuna Espinheira (média-metragem/ documentário/ 47'/1978) – Ganhador do Troféu Candango no Festival de Brasília de 1978, o filme aborda o orixá Exu, figura central da mitologia do candomblé.

NA BOCA DO MUNDO: EXU NO CANDOMBLÉ, de Eliane Coster (média-metragem/ documentário/26'/2011) - O documentário propõe uma abordagem etnográfica e experimental abordando a multiplicidade e as diversas manifestações culturais de Exu. A realização 
parte de oficinas de capacitação em produção audiovisual com adeptos do candomblé.

MALUNGUINHO, de Felipe Peres Calheiros (curta-metragem/documentário/15'/2013) - Malunguinho liderou o quilombo do Catucá, nos arredores de Recife, no início do século XIX. Apesar de ter sido assassinado em 1835, ainda hoje é cultuado pelos praticantes da Jurema Sagrada, religião de matriz indígena com influências africanas do nordeste do Brasil. COMENTÁRIO DA CURADORIA: DESTAQUE DA PROGRAMAÇÃO – ESTRÉIA NA BAHIA – SESSÃO DE ABERTURA EM CACHOEIRA

BODAS DE ARUANDA, de Chico Sales (média-metragem/documentário/26'/2014) - Uma história das narrativas simbólicas dos 50 anos de um centro umbandista da Paraíba. COMENTÁRIO DA CURADORIA: DESTAQUE DA PROGRAMAÇÃO – FILME INÉDITO – ESTRÉIA NAS SESSÕES DE ABERTURA EM CACHOEIRA E SALVADOR.

POLÊMICA, de André Luís Sampaio (curta-metragem/experimental/21'/1999) - Filme musical, chanchada mediúnica e documentário. Dupla de vagabundos recebem os santos Noel Rosa e Wilson Batista. Incorporados e à solta no carnaval carioca, revivem a famosa e polêmica rivalidade dos anos 30, que inspirou sambas antológicos como Palpite Infeliz, Rapaz Folgado e Feitiço da Vila. COMENTÁRIO DA CURADORIA: exemplo significativo da livre criação cinematográfica, o filme é a primeira e única chanchada mediúnica já feita no Brasil.

ORIKI, de Jorge Alfredo e Moisés Augusto (curta-metragem/documentário/15'/2000) - poema em louvor a Iemanjá, Rainha do mar e Deusa da criação. Mãe Olga, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos e Virgínia Rodrigues são aqueles que viabilizam o contato entre os homens e os Deuses. COMENTÁRIO DA CURADORIA: SESSÃO DE CURTAS PARA IEMANJÁ

OFERENDA, de Ana Bárbara Ramos (curta-metragem/documentário/17'/2011) - 7 velas brancas, 7 velas azuis, champagne, 7 rosas brancas, 7 fitas azuis (1 metro cada uma) 7 fitas brancas (1 metro cada uma), 1 bilhete com no máximo 3 pedidos, 1 DVD. Local de entrega: praia de Tambaú. COMENTÁRIO DA CURADORIA: SESSÃO DE CURTAS PARA IEMANJÁ. Filme de olhar plástico apurado, atento aos mais pequenos signos. Busca tratar o tempo na busca de correlações sensoriais com a idéia do transe. A diretora, no filme, fala na primeira pessoa de sua própria aproximação com o candomblé, e de um modo transparente que torna tudo o que possamos ver em um vestígio apenas da experiência vivida.

ESPAÇO SAGRADO, de Geraldo Sarno (curta-metragem/documentário/17'/1975) - O filme documenta o espaço sagrado de um candomblé típico do Recôncavo Baiano, com suas diferentes origens e sincretismos entre etnias africanas e indígenas; a casa de Exu e a comida sagrada, a camarinha, as ervas para fins rituais e os presentes para Iemanjá. COMENTÁRIO DA CURADORIA: SESSÃO DE CURTAS PARA IEMANJÁ. O filme documenta a passagem de um olhar descritivo e pretensamente objetivo para o registro do imponderável, a partir de tratamentos plásticos e temporais tendendo à abstração: é o transe, magia e mistério do candomblé.

IEMANJÁ DO RIO VERMELHO, de Pablo Pablo (curta-metragem/ documentário/ 14'/ 2014) - Impressões de um olhar externo envolvido de forma desavisada pela atmosfera do dia de Iemanjá em meio ao Rio Vermelho, em Salvador. A força do arquétipo feminino, a simplicidade dos elementos, a explosão da fé em perfumes e cores, a festa. COMENTÁRIO DA CURADORIA: SESSÃO DE CURTAS PARA IEMANJÁ em Cachoeira. FILME INÉDITO - DESTAQUE DA MOSTRA, estréia mundial na sessão de abertura de Salvador.

HÙNDÀNGBÈNA – O NINHO DA SERPENTE, de Mazé Mixo (média-metragem/ documentário/61'/2014) – o filme documenta a narrativa de Mèjitó Marcos Carvalho de Gbésèn, o pai de santo fluminense que foi buscar em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, as origens do Jeje na matriz HúmkpàméAyono Huntoloji, da já falecida Gaiaku Luíza de Oyá, que se tornou sua mãe de santo. COMENTÁRIO DA CURADORIA: DESTAQUE DA PROGRAMAÇÃO. ESTRÉIA NA BAHIA.

UMA CIÊNCIA ENCANTADA, de Chico Sales (curta-metragem/ documentário/ 20'/ 2010) – Percepções e impressões acerca dos encantos e mistérios de uma praia, inserida na cosmologia da Jurema Sagrada, no litoral sul da Paraíba.

ABÁ, de Raquel Gerber (curta-metragem/documentário/4'/1989) - Abá significa esperança de paz espiritual. Significa também encontro, a crença na luz e a chegada no estado de contemplação. COMENTÁRIO DA CURADORIA: metafísico, místico, sensorial e poético, Abá é um dos exemplos mais felizes no diálogo formal entre o cinema e a espiritualidade afro-brasileira.

DIA DE ERÊ, de Olney São Paulo (curta-metragem/documentário/22'/1978) - O filme documenta a comemoração do Dia de São Cosme e Damião, evidenciando o grande sincretismo religioso dessa festa popular, tanto nos rituais de umbanda como na igreja católica, através de cenas que se repetem a cada ano com maior intensidade nos subúrbios do Rio de Janeiro. A inocência das crianças, as promessas, graças e homenagens aos santos. COMENTÁRIO DA CURADORIA: Dia de Erê complementa por oposição a sessão do longa-metragem Devoção, de Sérgio Sanz, que busca apontar o sincretismo como o grande mito religioso do Brasil.

DO DIA EM QUE MACUNAÍMA E GILBERTO FREYRE VISITARAM O TERREIRO DA TIA CIATA MUDANDO O RUMO DA NOSSA HISTÓRIA, de Sérgio Zeigler e Vitor Ângelo (curta-metragem/ficção/21'/1998) - Com Tia Ciata, Freyre, Macunaíma e samba no nascimento de uma nação.



Filmes em estréia universal:

IEMANJÁ DO RIO VERMELHO, de Pablo Pablo

UMBANDA DO SOL E DA LUA, de Sergio Rossini



Filmes em estréia na Bahia:

BODAS DE ARUANDA, de Chico Salles

MANIFESTO MAKUMBACYBER, de Beto Brant

ILÚ OBÁ DE MIN E KUTA NDUMBU, de Beto Brant

HÙNDANGBÈNA – O NINHO DA SERPENTE, de Mazé Mixo



Filmes raros

YAÔ – INICIAÇÃO DE UM FILHO DE SANTO, de Maureen Bisiliat

UMBANDA NO BRASIL , de Rogério Sganzerla

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