25/04/2014

DANIELLE WINITS, JÚLIO ROCHA, RAINER CADETE e SARA FREITAS PROTAGONIZAM ‘O CACHORRO RIU MELHOR’, TEXTO DE DOUGLAS CARTER BEANE INDICADO AO TONY EM 2007


Fotos FRED PONTES.

Com direção de Cininha de Paula e versão de Miguel Falabella e Artur Xexéo, comédia estreia dia 18 de abril, no Teatro dos Quatro.


Andy Warhol profetizou que ‘um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama’. Em um mundo repleto de BBBs e afins, este momento parece ter chegado, trazendo consigo uma nova questão: como se manter no topo? É sobre esses tempos de vale-tudo para conquistar e seguir sob os holofotes, onde a aparência se sobrepõe à essência, que se debruça ‘O Cachorro riu melhor’, texto de Douglas Carter Beane, indicado ao Tony em 2007. Um olhar ácido sobre o tefotoma, que conjuga com o pensamento de Nietzsche, “quando o reconhecimento de muitos por um único afasta qualquer pudor, nasce assim a fama”. Com assinatura de Miguel Falabella e Artur Xexéo, a versão brasileira estreia no dia 18 de abril, no Teatro dos Quatro, com direção de Cininha de Paula e Danielle Winits, Júlio Rocha, Rainer Cadete e Sara Freitas no elenco.


Danielle Winits interpreta Dione, papel que deu o Tony de melhor atriz a Julie White. Famosa agente de atores, ela procura manter em evidência seu pupilo, o astro de cinema Mateus (Júlio Rocha), mas precisa ainda proteger a imagem do galã, escondendo sua sexualidade. O problema se agrava quando Mateus conhece Alex (Rainer Cadete), um garoto de programa, e os dois se apaixonam. O próprio Alex, contudo, não tem certeza das suas escolhas, pois tem uma namorada, Helena (Sara Freitas), uma jovem que também complementa a renda fazendo programas. Esta relação faz Mateus repensar suas escolhas, e uma teia de mentiras, sombras e aparências fica prestes a se romper.


O espetáculo traz uma série de dilemas morais e éticos, flagrando os personagens em um momento no qual são obrigados a se confrontar e descobrir sua essência. “O que mais me atrai na história são justamente essas amarras pessoais e sociais que criamos e que acabam por nos impedir de perseguir aquilo que verdadeiramente desejamos”, explica Cininha. “É um tema muito contemporâneo, onde os anseios atuais são colocados em xeque: de um lado da balança, o desejo por um grande amor, uma grande paixão; do outro, a luta por um sonho, uma carreira, ou o desejo de enriquecer - em tempos atuais parecem ser a mesma coisa -, que são vontades que parecem não poder se conjugar mais”, complementa a diretora.


O texto desvenda os bastidores do show business e discorre sobre os meandros e artifícios na busca pelo sucesso. A ação se passa nos Estados Unidos, mas poderia perfeitamente ter o Rio ou qualquer outra cidade como cenário. “A peça expõe comportamentos contemporâneos. Critica esse universo da fama e do sucesso a qualquer preço. Fala de quanto o homem de hoje é capaz de vender seus princípios por qualquer cachê. O autor conhece bem o mundo do show business americano, que não é muito diferente lá ou cá”, afirma Xexéo.


A versão brasileira de Artur Xexéo e Miguel Falabella preserva o humor e a acidez original do autor. “Ele tem um humor que nunca é óbvio. É crítico, é irônico, e o desafio é não perder essa crítica e essa ironia”, enfatiza Xexéo. Foi também esse viés cômico do texto que instigou Cininha a dirigir a montagem: “o humor tem uma linha mais direta de comunicação com o espectador. Por alguma razão, ele parece chegar mais fundo aos corações, levar mais rapidamente à reflexão e de forma mais sucinta”.


O consagrado José Dias assina a cenografia do espetáculo, que tem ainda figurinos de Sônia Soares e trilha sonora de Ricardo Leão, em uma realização da Chaim XYZ Produções. Embora o texto seja realista, Cininha de Paula acredita que há uma liberdade conceitual que transcende esta definição. “Temos várias ‘quebras’ desse código: os personagens se sabem personagens, como os atores se sabem atores; Com exceção do quarto do hotel, os espaços da encenação podem ser/assumir qualquer local, os personagens falam com outros personagens que não estão no mesmo local. Há uma gama de códigos que fogem e quebram os ‘paradigmas’ do realismo”.

O que difere um artista que se vende para fazer sucesso de um garoto de programa que aluga o corpo para sobreviver? “Mateus e Alex têm mais em comum do que enxergaria um olhar superficial. Talvez só um deles possa despir a personalidade do outro”, pondera Xexéo. ‘O cachorro riu melhor’ é uma ampla radiografia de um mundo onde cada vez mais os valores estão invertidos e a ética relativizada. A ilusão é a grande moeda de troca destes dias. Quem dá mais?

‘O cachorro riu melhor’

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