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08/07/2014
PercPan retorna para Salvador em sua vigésima edição
Festival acontece de 25 a 27 de julho e entra para o calendário cultural da cidade.
Anos após percorrer algumas capitais do Brasil e até mesmo do exterior, o PercPan, maior festival de música percussiva do país (e um dos maiores do mundo), volta a se fixar na cidade onde surgiu originalmente, Salvador, agora como parte do calendário oficial da capital baiana. Durante os dias 25, 26 e 27 de julho, a vigésima edição do evento vai receber no Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador, cerca de 25 atrações nacionais e internacionais, em apresentações gratuitas.
“O Percpan é o evento ideal para cidade. Primeiro porque ele não é uma invenção, mas reforça algo que sempre existiu e é bom em Salvador. É importante criar novidades, e mais importante ainda, é fortalecer o que já existe. A realização de um evento assim associa a expertise da iniciativa privada com a força da instituição pública. O projeto tem tudo para ter vida longa e vem ao encontro da nova fase de Salvador”, afirma o secretário do Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani.
Sob a curadoria de Alê Siqueira, Letieres Leite, José Miguel Wisnik e consultoria artística do jornalista e crítico musical Hagamenon Brito, o festival baiano ressurge com algumas inovações estruturais. A primeira noite será dedicada às relações entre Percussão - Voz, Corpo e Palavra, quando os ritmos e timbres tomam o corpo e a voz como instrumento, e quando a palavra é entoada com ênfase na sua dimensão rítmica. Já a segunda acolherá o Panorama Percussivo Feminino, apresentando o exuberante quadro atual de músicas percussivas feitas por mulheres. O mote da terceira e última noite é Das Matrizes às Batidas Contemporâneas: o cruzamento entre matrizes rítmicas tradicionais, com ênfase no candomblé, e formas que elas assumem em gêneros de ponta da música contemporânea, especialmente o rap e o funk.
“Atrações baianas, artistas de expressão nacional vindos de outros estados e figuras da música internacional continuam a fazer parte dos espetáculos, mas o modo de combiná-los é inteiramente novo, e promete situações dialogais inéditas”, explica a socióloga e diretora Elisabeth Cayres, criadora do PercPan.
Mais do que um mosaico de músicos de variada proveniência, concebidos como atrações em si mesmas, o Percpan propõe uma viagem articulada por certas áreas da percussão contemporânea. “Agrupando os artistas, sempre que possível, com base na modalidade que lhes é comum, cada espetáculo oferecerá um painel vibrante de alguns dos campos em que a percussão se desenvolve hoje, permitindo que saltem à vista e aos ouvidos as surpreendentes semelhanças e contrastes que se estabelecem entre os convidados”, diz José Miguel Wisnik. “O roteiro os estimula também a tocarem juntos, a se somarem e a se multiplicarem em inéditas combinações, quando é o caso”, completa.
O Percpan promoverá, ainda, workshops e mesas redondas onde os convidados falarão, com exemplos concretos, sobre sua experiência musical e sobre os diálogos rítmicos que estarão em cena ao longo do festival.
Com a proposta de mostrar ao público brasileiro uma combinação do que há de mais relevante no mundo da percussão, o PercPan é hoje referência no gênero. Nos seus 19 anos de existência, o festival promoveu mais de seis mil horas corridas de música, produzidas por cerca de 300 atrações nacionais e internacionais, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Marisa Monte, Carlinhos Brown, Naná Vasconcellos, Arnaldo Antunes, Beirut, Sly and Robbie, Rita Marley, Savion Glover e Hypnotic Brass Ensemble.
O PercPan é o primeiro festival do mundo dedicado exclusivamente à música percussiva. Em 1998, ganhou as páginas do New York Times, ampliando seu prestígio com edições itinerantes que o levaram a cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e até Paris. O evento tem patrocínio da NET, Itau e BNDES.
A programação
A baiana Banda de Boca, cujo nome já diz da sua vinculação com a proposta da primeira noite, explora vocalizações rítmicas a partir de sambas e canções da MPB. O conjunto faz a ponte com o grupo paulista Barbatuques, que se notabilizou nacional e internacionalmente pelo alcance que deu à percussão corporal e vocal. Na sequência, Vocal Sampling (Cuba) e a impactante presença de Mano Brown.
O Panorama Percussivo Feminino começa com o Leilía, grupo de cantareiras da Galícia. Também conhecidas como pandereteiras, as jovens cantoras que se acompanham com pandeiros dão continuidade a uma tradição imemorial nessa região da Espanha e, seguidas das Ganhadeiras de Itapuã, farão uma combinação surpreendente de ritmos ibéricos com ritmos brasileiros.
Uma banda de mulheres, Orquestra Obìnrin, que significa mulher em Yorubá, formada especialmente para o Percpan, focará nas matrizes afro-baianas com 12 musicistas e a participação especial de Mônica Millet e DJ Lisa Bueno. Na sequência acompanha Margareth Menezes e a Banda Didá que convida como atração final da noite, a multiartista Sayon Bamba, da Guiné Conacri. Cantora, compositora, percussionista, dançarina e ativista social e política, Sayon é uma das personalidades mais fascinantes da música africana contemporânea.
A terceira noite do festival vai do ainda desconhecido e surpreendente novo grupo baiano Aguidavi do Jeje ao consagrado rapper carioca Marcelo D2, passando pelo Percussivo Mundo Novo, que convida Marcio Victor com o Samba Chula de São Braz, seguidos pela dupla formada por Gabi Guedes e o DJ Cia, que convidam, por sua vez, Nelson Maca, Opanijé e Simples Rap’ortagem.
Mais do que opor o tradicional ao contemporâneo como se fossem mundos completamente distantes, esses encontros evidenciam as enormes afinidades e os campos de contato abertos, no caso, entre samba chula e música eletrônica, rap e candomblé. Mostrando que as músicas rítmicas, tendo como matéria o tempo, são na verdade, e à sua maneira, contemporâneas entre si.
Sobre os curadores
Alê Siqueira, premiado produtor musical paulista, cuja formação combina a música clássica e a eletroacústica, o rock, o rap, o pop e a canção, mudou-se para a Bahia atraído justamente pelos ritmos, de cujas tramas tornou-se um profundo conhecedor.
Letieres Leite, músico e arranjador com presença decisiva na cena pop baiana, criou a inovadora e extraordinária Orkestra Rumpilezz, movido por um pensamento musical próprio, cuja chave está nos ritmos.
José Miguel Wisnik, músico, compositor e ensaísta brasileiro, é também professor de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo. Com vários discos gravados, escreve regularmente ensaios sobre música e literatura, e mantém uma coluna semanal no jornal carioca O Globo. É autor de O som e o sentido – uma outra história das músicas. Além de seus discos, livros, ensaios e aulas, Wisnik faz também música para cinema, teatro e dança.
Hagamenon Brito, graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), é crítico de música e editor de cultura do jornal CORREIO*. Colaborou com publicações como A Tarde, Veja Salvador, Bizz (SP), Palavra (MG) e Jornal do Brasil (RJ); tem artigos publicados na revista Latin American Music Review (Universidade do Texas/EUA), e no Dicionário Cravo Albim de MPB; e produz e apresenta os programas Black Soul e Sangue Novo, na Globo FM (Salvador).
20ª PERCPAN
Terreiro de Jesus
(Praça 15 de novembro, s/nº – Pelourinho)
percpan.net
25/julho (sexta-feira): Percussão - Voz, Corpo e Palavra
Horário: a partir das 20h
- Banda de Boca (Bahia)
- Barbatuques (São Paulo)
- Vocal Sampling (Cuba)
- Mano Brown (São Paulo)
26/julho (sábado): Panorama Percussivo Feminino
Horário: a partir das 20h
- As Ganhadeiras de Itapuã (Bahia)
- Leilía (Galícia, Espanha)
- Sayon Bamba (Guiné Conacri, África)
- Orquestra Obìnrin part. Mônica Millet (Bahia) e DJ Lisa Bueno (SP)
- Banda Didá (Bahia)
- Margareth Menezes (Bahia)
27/julho (domingo): Das Matrizes às Batidas Contemporâneas
Horário: a partir das 19h
- Aguidavi do Jeje (Bahia)
- Marcio Victor & Samba Chula de São Braz (Bahia)
- Percussivo Mundo Novo (Bahia)
- Gabi Guedes (Bahia) e Dj Cia (São Paulo) convidam: Opanijé, Nelson Maca (part. Jorjão Bafafé e João Teoria), Simples Rap'ortagem. Part. especial Preto Nando (MA), Zé Brown (PE), Kalyne Lima (PB).
- Marcelo D2 (Rio de Janeiro)
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