Grupo paraibano traz espetáculo que mergulha no universo de Machado de
Assis e promove oficina gratuita para atores
Pela primeira vez em temporada em
Salvador, o grupo paraibano Coletivo Alfenim traz para capital baiana o projeto Figurações
Brasileiras, circula cidades brasileiras com o espetáculo Memórias de um Cão. Com apresentações no Teatro Gamboa Nova (Rua
Gamboa de Cima – Largo dos Aflitos), de quarta a sábado, às 20h e aos domingos,
às 17h, de 5 a 16 de agosto. A temporada tem apresentações gratuitas e integra
o projeto de manutenção Figurações Brasileiras, com patrocínio da Petrobrás.
Além das apresentações do
espetáculo, o grupo promoverá a oficina Exercícios para uma cena dialética, com
o diretor teatral e dramaturgo Márcio Marciano, nos dias 10 e 11 de agosto, das
19h às 22h, no Espaço Xisto Bahia (Complexo Cultural dos Barris). Voltada para
atores, diretores, dramaturgos e estudantes de teatro, as aulas vão partir de
exercícios de improvisação com base em cenas modelo de Bertold Brecht,
introduzindo os fundamentos do método dialético do encenador alemão. Para
participar, os interessados deverão se inscrever por email para alfenim.salvador@gmail.com. É
necessário enviar currículo artístico e acadêmico, carta de intenções, nome
completo e artístico e contatos. As vagas são limitadas.
A
peça, que estreou em abril
deste ano, é fruto do estudo da obra de Machado de Assis, levantando
questionamentos acerca do sujeito brasileiro ao lado das inquietações
dos
artistas do grupo, que também somam ao espetáculo a experiência obtida
na
criação de seu repertório. O grupo, que
tem sua pesquisa calcada no desenvolvimento de uma dramaturgia própria,
mergulhou no universo machadiano para criar um espetáculo que
propõe uma abordagem crítica das estratégias de dissimulação, engodo e
auto-engano que marcam no campo subjetivo e político as relações sociais
do
Brasil.
Quincas Borba – A partir da leitura do romance Quincas Borba, o
Coletivo Alfenim propõe uma alegoria tragicômica da desfaçatez com que a elite
econômica e cultural brasileira tenta se isentar de sua responsabilidade
histórica pela barbárie que marca o processo de modernização do país. A direção
e a dramaturgia são de Márcio Marciano, que investe numa leitura contemporânea
da obra de Machado.
Pautando-se pela ironia contida
nessa espécie de anti-romance modelar, o espetáculo procura expor as
contradições de uma sociedade em formação que almeja reconhecer-se no espelho
da modernidade, sem abrir mão de prerrogativas de classe como a exploração da
mão de obra escrava, a espoliação do incipiente trabalho livre e a apropriação
da riqueza nacional por parte de sua elite econômica, a partir da
instrumentalização das instâncias do poder público, numa nação recém saída da
condição de colônia portuguesa. E o faz tendo em mente que as semelhanças com a
atualidade não são mera coincidência.
O Alfenim é um coletivo teatral nasceu
em 2007, com o objetivo de criar uma obra autoral com base em assuntos
brasileiros. O coletivo trabalha com o conceito de dramaturgia em processo, no
qual o texto de suas montagens é criado na sala de ensaios com a participação
dos atores e demais artistas colaboradores. Ao longo desses anos, o grupo
trabalho para a formação de plateias a partir de eventos paralelos às montagens,
como seminários, oficinas e debates sobre os temas abordados em sua pesquisa.
Os ensaios e as atividades formativas do grupo acontecem em sua sede, a Casa
Amarela, em João Pessoa (PB). O repertório do Alfenim reúne as montagens Brevidades, O Deus da Fortuna, Milagre
Brasileiro e Quebra-Quilos.
SINOPSE
Memórias de um Cão narra a trajetória de ascensão e queda de
Rubião, um mestre-escola interiorano que, às vésperas da abolição da
escravatura, se muda para a Corte, após receber uma herança de seu benfeitor,
Quincas Borba, um típico escravocrata, autodenominado filósofo, que ocupa seus
dias ociosos de proprietário e rentista com especulações amalucadas sobre a
“natureza humana”.
Como condição para usufruir a
herança, o recém endinheirado deve cuidar do cão Quincas Borba, que tem o mesmo
nome de seu benfeitor. Essa exigência testamentária, uma variante do pacto
fáustico, traduz na prática as determinações do “Humanitismo”, espécie de
doutrina heterodoxa criada por Quincas Borba, cujo princípio pode ser sintetizado
na máxima “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
Tornado capitalista da noite para
o dia, Rubião irá flanar pelas ruas elegantes de um Rio de Janeiro em processo
vertiginoso de modernização, buscando inserir-se num círculo de relações de
favor, marcadas pelo preconceito de classe e pela futilidade de um mundo
apartado do trabalho. Enquanto torra o dinheiro da herança, o mestre-escola
experimenta uma vida de luxos e compensações imaginárias a tal ponto irreais
que pensa ser o próprio Imperador francês Napoleão III, numa clara alusão às
pretensões da elite brasileira de tornar o Brasil uma nação do primeiro mundo,
com a importação de um liberalismo fora do lugar e vistas grossas ao tráfico de
escravos.
SERVIÇO
Temporada Coletivo Alfenim no Teatro Gamboa Nova
Espetáculo Memórias de
Um Cão
Onde: Teatro Gamboa Nova (Rua Gamboa de Cima – Largo dos
Aflitos)
Quando: de quarta a sábado, às 20h e aos domingos, às 17h,
de 5 a 16 de agosto.
Quanto: gratuito
Classificação: 14
anos
Oficina Exercícios
para uma cena dialética, com o diretor teatral e dramaturgo Márcio Marciano
Quando: nos dias 10 e 11 de agosto, das 19h às 22h
Onde: Espaço Xisto Bahia (Complexo Cultural dos Barris)
Inscrições pelo email: alfenim.salvador@gmail.com
Ficha Técnica
Adriano Cabral - Ator
Gabriela Arruda - Produtora
Lara Torrezan - Atriz
Márcio Marciano - Diretor e Dramaturgo
Mayra Ferreira - Musicista
Nuriey Castro - Músico
Paula Coelho - Atriz
Ricardo Canella - Ator
Verônica Cavalcanti - Atriz
Vitor Blam - Ator
Zezita Matos - Atriz
Ronaldo Costa - Iluminador
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