29/01/2016

Músicos contam como é viver de rock em Salvador


Fotos: Uanderson Brittes / Anderson do Carmo.

Às vésperas do carnaval, artistas mostram que a Bahia tem espaço para todos os gostos musicais

Faltam poucos dias para o carnaval de Salvador e a cidade já se prepara para receber milhares de visitantes que vêm de longe para conferir de perto um dos ritmos mais famosos da folia momesca: o Axé Music. Apesar de ser um dos gêneros musicais mais difundidos nessa época, tem muita gente, na terra do dendê, afinando a guitarra ao som de Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Guns N' Roses, dentre outros.

A história do rock na Bahia começou nos anos 50 e, de lá pra cá, grandes nomes se destacaram no cenário musical, a exemplo de Raul Seixas, Tom Zé, Pitty, Camisa de Vênus, Maglore, Vivendo do Ócio e a extinta banda Cascadura.

Recentemente, a banda Novelta, de Feira de Santana, composta pelos músicos José Cordeiro Neto, Filipe Figueiredo, Luciano Cotrim e Wendell Fernandes, vem aquecendo o cenário musical local. Surgida em 2012, o grande diferencial da banda é misturar stoner rock, rock psicodélico, grunge, além de um pouco de punk e hard rock, com temas que envolvem o sertão, passando por influências de Belchior, Raul Seixas, Alceu Valença e Luiz Gonzaga. “O que buscamos é uma maneira nossa de falar sobre esse tema, usando nossos recursos, tentando nunca ser piegas na forma de mostrar isso para as pessoas”, conta José Cordeiro Neto, guitarrista do grupo.
No ano passado, a banda teve que administrar uma agenda bem cheia e foi preciso até recusar alguns convites. “Passeamos por quase toda a Bahia, mas ainda faltam muitos lugares pra ir. Já tocamos em Salvador, Camaçari, Alagoinhas, Serrinha e, claro, nossa cidade, Feira de Santana. Fomos até Fortaleza participar do Festival Rock Cordel. Foi uma ótima experiência”, lembra.

Outra banda que vem fazendo muito sucesso no cenário do rock baiano é a Lo Han, composta por Rafael Breschi (vocal), Ricardo Lopo (teclado), Alexandre Amoedo (guitarra), Caio Aslan (guitarra), Thiago Brandão (bateria) e Caio Parish (baixo).

A banda surgiu em 2005 e vem fazendo diversos shows na capital baiana, em locais como o Dubliners Irish Pub, Groove Bar e Portela Café, além de festivais fora da cidade.

“Nossos maiores públicos foram em festivais. Em 2006 tocamos em um festival de moto com mais de 5 mil pessoas. Em 2013, tocamos em um congresso do curso de geologia com mais de 2 mil pessoas”, diz o vocalista, Rafael Breschi.

“Não existe mercado de Rock na Bahia, não se ganha dinheiro com isso. O que existe é uma boa cena, boas bandas e bons locais, que por mais que ainda sejam poucos e pequenos, apóiam e nos abrem espaço”, analisa.
Ascensão - Para o produtor musical e DJ, Rogério Britto, mais conhecido como Big Bross, as perspectivas para o cenário são as melhores possíveis. “Vejo boas mudanças no front. Observo uma nova geração que percebeu que está no mesmo bote e se remar junto chega mais rápido”, prevê, “Meu maior desafio é fazer com que o publico liberte o ouvido pro novo”, observa o produtor, que tem quase 25 anos vivendo de rock na Bahia.

Seus primeiros trabalhos foram shows de metal no extinto clube Cruz Vermelha, no bairro do Campo Grande, por volta de 1992. “São muitos eventos que me orgulho de ter participado, como o Garage Rock Anos 90, Canta Rock Pelourinho, Festival Boom Bahia, Digitália, Festival Bigbands, Quanto Vale o Show e o selo Big Bross Records com cerca de 60 títulos lançados de artistas autorais”, enumera.

Outro artista que vem cada vez mais se destacando na cena musical baiana é o cantor e compositor Duda Spínola. O músico já atuou como guitarrista da banda de reggae Adão Negro, entre 2006 e 2013, e após iniciar carreira solo, lançou seu primeiro disco, intitulado “A Vida Me Chama lá Fora”, com composições exclusivamente autorais.

“Tenho trabalhado muito, devotado muito tempo e suor à minha carreira e espero que o tempo me permita colher os frutos deste esforço. Tudo que eu quero é tocar os corações das pessoas, na maior quantidade de lugares possível e poder levar o meu som até elas”, ressalta o artista.

“O público que gosta de rock é, em geral, muito fiel e devotado ao gênero e aos artistas que escolhe seguir. Ao mesmo tempo ele é muito crítico. Creio que colocar as coisas que você verdadeiramente gosta nas suas músicas é a melhor forma de emocionar e se manter conectado com as pessoas”, completa Duda, mostrando que na Bahia tem muita gente que nesse carnaval vai dispensar um “sai do chão”, para escutar um “toca Raul!”.

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