“O homem do nosso século
– o homem psicológico, econômico, moral, metafísico – é um homem ‘massificado’,
mas é sobretudo um homem ‘separado’. Separado dos outros, separado do corpo
social, separado de si mesmo, dividido, fragmentado, despedaçado”, Jean-Pierre
Sarrazac, em Léxico
do drama moderno e contemporâneo.
Depois de esgotar todas
as sessões da primeira temporada, o espetáculo teatral “EGOTRIP – Ser ou não
ser? Eis a comédia” volta a cartaz no Teatro do SESI Rio Vermelho, de 03 a 25 de setembro, sábados e
domingos, sempre às 20h. Os ingressos custam R$ 30 [inteira] e R$ 15 [meia
entrada]. O envolvente e divertido enredo gira em torno de um grupo de quatro
amigos tipicamente urbanos e individualistas que decide viajar para uma
longínqua cidadezinha do interior com o propósito de recuperar um suposto “anel
de nobreza” pertencente à família de um deles.
Nas curvas dessa viagem,
os personagens viverão uma série de situações cômicas e dramáticas que
transformarão suas percepções sobre o mundo. Uma clara alusão ao gênero
cinematográfico road movie, em que os
protagonistas deixam seus lares, partindo em busca de novas aventuras e
fatalmente alterando as perspectivas sobre suas próprias vidas cotidianas.
Durante esse processo, surgem muitas questões que refletem dilemas
contemporâneos, como os binômios “carreira profissional x realização pessoal”, “posição
política de esquerda x direita”, “casamento x vida solteira”, “cidade x campo” e “competitividade x
solidariedade”. Dicotomias que proporcionarão uma busca de identidade,
uma viagem do ego – daí o título da obra.
O espetáculo tem texto e
encenação de João Sanches, trilha
sonora ao vivo de Leonardo Bittencourt,
e conta com um elenco estelar da nova geração do teatro baiano - Igor Epifânio, Alexandre Moreira, Jarbas
Oliver e Rafael Medrado, que já integraram
grandes sucessos de bilheteria, como “Entre Nós - Uma comédia sobre
diversidade” (Prêmio Braskem de Melhor
Espetáculo, Melhor Texto e Melhor Ator, em 2013), “A Bofetada”, “Os
Cafajestes”, “Siricotico” e “Camila Backer”.
Por sua vez, o encenador
João Sanches é responsável por prestigiados espetáculos, como “Eu te amo mesmo
assim”, “Boca a boca: um solo para Gregório” e “Entre Nós – Uma comédia sobre
diversidade”, e que já realizaram temporadas tanto em outros estados, como São
Paulo e Rio de Janeiro, quanto em outros países, como Estados Unidos e
Portugal. Para Sanches, a vida dos dias de hoje é uma vida de muitos trânsitos,
muitos caminhos, com trocas mais dinâmicas e intensas. “Foi dessa observação
que surgiu a vontade de refletir sobre um paradoxal sentimento contemporâneo de
desconexão num mundo super conectado”, explica o encenador, que se apressa em
complementar: “mas com leveza e humor”.
O cenário do espetáculo
é uma pop arte vibrante e colorida. A base do material primário utilizado são
engradados de cerveja, fazendo uma referência à liberalização da bebida nos
dias de hoje e no quanto ela está presente nas relações sociais, no estímulo
aos debates contemporâneos e nas mais variadas conversas. As ilustrações que
colorem os engradados são inspiradas na arte urbana e caótica do norte
americano Jean Michel Basquiat, valorizando a estética do grafite e da pintura
neo-expressonista.
Já a trilha sonora é
toda realizada ao vivo pelo multi-instrumentista e compositor Leonardo
Bittencourt, fazendo várias referências à cultura popular brasileira, desde o
samba de roda do Recôncavo Baiano ao punk do Ramones. Além dos números
musicais, Bittencourt também executa a sonoplastia, o fundo musical e outros
efeitos e intervenções sonoros durante toda a peça, ajudando a criar a
atmosfera das cenas.
O projeto global:
O projeto também contou
com a realização de quatro workshops,
destinados a artistas profissionais e amadores de três cidades do interior da
Bahia: Euclides da Cunha, Morro do Chapéu e Livramento de Nossa Senhora. Esses workshops
tiveram duração de 20 horas (em cada cidade) e aconteceram durante o processo
de montagem da peça. O objetivo principal era o de criar uma interlocução entre
a equipe do espetáculo e os grupos artísticos dessas regiões. Ensaios abertos
também fizeram parte das atividades, estendendo o trabalho da equipe para além dos
workshops.
As cidades do interior
escolhidas são pouco dotadas de equipamentos culturais, mas têm uma cena
teatral expressiva que busca afirmação e interação com outros artistas. Ademais,
o próprio mote da peça perpassa pela dicotomia “campo x cidade”, em que a
desconexão do homem contemporâneo consigo próprio e, consequentemente, com o
seu meio social e ambiental, provoca uma reflexão entre as culturas da cidade
grande e da cidade pequena, explorando a separação entre o urbano e o rural,
entre o central e o periférico, que funcionam como metáforas dessa desconexão
existencial.
Por fim, tal
interlocução, além de contribuir para a formação de artistas baianos, naturais
ou residentes no interior do estado, serviu enormemente como laboratório
criativo para a concepção do espetáculo e de sua dramaturgia.
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