O ator Antônio Pitanga e o cineasta africano Abderrahmane Sissako foram convidados para falar sobre o tema e atraíram público massivo para o Goethe-Institut Salvador
O encerramento do NordesteLab 2017 contou com uma potente reflexão sobre o cinema negro, que ganhou destaque na programação desta sexta-feira (2). Convidado para o painel “Cinema Africano e perspectivas de coprodução”, o diretor mauritanês radicado na França Abderrahmane Sissako trouxe a sua experiência internacional como jurado de Cannes e de filme indicado ao Oscar para trazer uma nova noção de sucesso. “Temos que remodelar o que achamos ser sucesso, estar em Cannes ou nos grandes festivais pode não ser mais importante do que partilhar com as pessoas a sua obra”, pontuou.
Com a mediação do cineasta baiano Antônio Olavo, o painel deu lugar para a plateia realizar perguntas para Sissako. Entre uma de suas respostas o cineasta colocou uma dificuldade que é compartilhada entre os diretores africanos e brasileiros: a falta de recursos. “Geralmente o dinheiro vem da Europa, que de certa forma, como financiadora, coloca as suas regras e espera ter retorno do investimento”.
Ciente do poder da sua ferramenta de trabalho e de que a cultura é uma arma na luta pela igualdade e pela representação, Sissako incentivou os ouvintes a continuarem a busca pelo “falar”. O próximo filme dele será rodado na China e narra o romance entre um chinês e uma africana em uma cidade apelidada como chocolate, por ter a presença de pessoas negras.
Logo em seguida o público prestigiou a ato de lançamento da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro – Bahia (APAN–BA). Outro momento festejado foi a realização da mesa “Cinema negro: conexões na diáspora” que teve o ator e diretor Antônio Pitanga entre os convidados. A mediação coube a Emerson Dindo (Portátil) e as outras convidadas foram Jamile Coelho (Estandarte Produções), Stella Zimmerman (Agira Filmes), Urânia Munzanzu (Realizadora Independente/Comunidade do Bogum) e Viviane Ferreira (APAN).
Na ocasião Pitanga disse se considerar um felizardo por voltar a Salvador, sua cidade de origem com a mesma sede de realizar coisas novas que tinha quando saiu para seguir a carreira de ator no Rio de Janeiro. Chamando atenção da necessidade de a população negra contar a sua história sob o seu ponto de vista, o artista disse que também é necessário contar temer universais e não apenas com a temática “negritude” como tema central. Outro conselho de Pitanga foi direcionado ao público do NordesteLab, mas vale para todos os produtores audiovisuais. “É preciso que os diretores e diretoras negros estimulem a população a ir ao cinema assistir o que fazem”, provocou.
Ele também falou sobre o seu novo projeto, o filme “Malê” que assina a concepção e a direção e será rodado no próximo ano contando mais uma vez a história de revolta de negros escravizados muçulmanos. “O Malê é um exemplo do que aconselho, quando fui vender o projeto, vendi como uma história de brasileiros, que por um acaso são negros, mas essencialmente brasileiros”.
O NordedesteLab é uma plataforma de encontros que visa o fortalecimento de redes a comercialização de produtos nordestinos, a realização de ações de formação e qualificação, além da promoção de intercâmbios culturais, estimulo à inovação e entrada de novos agentes no setor. Durante os quatro dias de atividade do encontro que aconteceu entre os dias 31 de maio e 2 de junho em Salvador, cerca de 700 participantes e 70 convidados, entre cineastas, produtores de TV, representantes de canais da televisão aberta e fechada trocaram ideias sobre os novos produtos audiovisuais que irão compor a programação de TVs e ou ocuparem as salas de cinema nos próximos anos.
Para esta edição o NordesteLab conta com o apoio financeiro do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, com a parceria do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), da Brasil Audiovisual Independente (BRAVI), da Associação de Produtores e Cineastas da Bahia (APC/BA) e do Goethe Institut Salvador, além do apoio da Prefeitura Municipal de Salvador, através da Fundação Gregório de Matos, do IRDEB/TVE 107.5 Educadora FM e da produtora Larty Mark.
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