30/01/2019

Thiago Romero estreia espetáculo AFRONTE | AKULOBEE dia 07 de fevereiro na Casa Rosada

Foto: Thiago Romero.

Montagem tem dramaturgia de Daniel Arcades e é a formatura em direção teatral pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia

O diretor teatral Thiago Romero estreia na Casa Rosada, no bairro dos Barris, o espetáculo Afronte – Akulobee, com dramaturgia de Daniel Arcades e assistência de direção de Luiz Antônio Sena Jr. e Paulo Machado. A peça, que traz dois espetáculos/percursos em uma única montagem – contemporâneo e ritualístico - para discutir gênero e raça, ficará em cartaz de 07 a 16 de fevereiro, de quarta à sábado, às 19h.
A montagem, que é a formatura Romero em direção teatral pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, traz dois percursos/espetáculos com discursos e estéticas totalmente diferentes. O processo de construção da dramaturgia foi pensado em caminhos e linguagens diferentes para chegar a um encontro.
Quem optar pelo percurso interno da Casa Rosada encontrará uma dramaturgia mais cotidiana, que traz as “BIXAS PRETAS” contemporâneas, pensada para ser um espaço de opinião. As personagens contemporâneas têm um perfil mais para o teatro documental, comédia e humor.
Interpretadas pelos atores Anderson Danttas, Diogo Teixeira, Igor Nascimento e Rafael Brito as bichas contemporâneas moram em uma casa que elas denominam Cuierlombo/Queerlombo. Nesse espaço elas contam suas histórias de vida; como se sentem sendo bichas e pretas, provocando debates e questionamentos. Sem faltar “churrias”.
Já o segundo percurso é uma dramaturgia mais lírica, do teatro ritual, poucos diálogos e investimento em poesia. Esta composição cênica que traz os atores Teodoro, Diego Alcântara, Ricardo Andrade e Antônio Marcelo inspira-se nas histórias das Quimbandas, grupos de negros escravizados da região do Congo e Angola, que foram trazidos e existem registros deles entre os séculos XVI e XIX.
A referência dos Quimbandas vem a partir de uma pesquisa de Thiago Romero, que encontrou em escritos do antropólogo Luiz Mott as suas histórias. Os Quimbandas foram completamente silenciados, ou pelo tráfico negreiro, ou inquisição, ou pelo processo higienista no século XIX. Com duas trajetórias, o público terá que escolher qual o percurso do espetáculo assistirá, sendo que, o limite por espaço é restrito, 25 pessoas por cada espaço.
“Nesse processo institucional de me formar queria algo tão pertinente quanto o Madame Satã. Em contato com um amigo chamado Leandro Bulhões, historiador e professor da Universidade Federal do Ceará, ele me falou do traço histórico dessas bichas e depois tive contato com o livro do Mott chamado Escravidão e Homossexualidade, que ele vai traçando o perfil dos Quimbandas”, descreve Romero.
Apesar de serem dois espetáculos ocorrendo ao mesmo tempo até o momento do encontro da ancestralidade/ritualidade com o contemporâneo, Arcades explica que esse deslocamento não é uma separação, mas um aprofundamento para chegar num trânsito, no entendimento dessa mistura. É uma dramaturgia construída e idealizada para a Casa Rosada e remete um pouco a história dos processos criativos do Teatro da Queda – Rebola, Anoitecidas, Desviante, Madame Satã.
Afronte tem como mote a seguinte pergunta: Ancestralidade por qual identidade?. “Um grupo vai caminhar para um local que exige opinião e outro vai caminhar para um lugar que precisa ser amparado, contemplado com a ancestralidade bicha. A escolha desta dramaturgia tem a ver com a fuga do estereótipo de que o teatro negro só tem um jeito de fazer as coisas”, realça o dramaturgo.
As duas proposições fazem com que possamos nos ver por caminhos diferentes e que possamos nos responsabilizar e nos enxergar diante da discussão gênero e raça. O intuito de trazer a ancestralidade é, principalmente, por uma questão de referencialidade.
“Estudar a bicha preta nos levar a pensar nisso: Quem veio antes de mim? Quem brigou e lutou para que eu possa chegar neste lugar de discussão? Quem marcou presença na terra e firmou os pés como bicha e preta? É um espetáculo que nos leva a pensar justamente sobre esse apagamento da nossa história”, pontua Arcades.
O dramaturgo acrescenta que, “se hoje temos uma percepção do apagamento das referências africanas e afro-brasileiras, por que nossa história é construída também por um discurso branco, a gente tem um apagamento gigante da nossa ancestralidade, da nossa história gay”. Afronte é um espetáculo que provoca o espectador a pensar onde estão os ancestres das diversas identidades que assumimos em nossas vidas.
Afronte fala da interseccionalidade da discussão de gênero e raça. Pouco se fala das narrativas bichas. “Como você opera gênero e raça nessas discussões tão em voga hoje em dia quanto ao racismo e a homofobia? O espetáculo fala da importância de discutir gênero e raça, quanto é especifico essa discussão. Todo mundo sabe que minha pesquisa é em gênero, minha tendência é o aprofundamento, mas quando se entende como bicha preta e trabalhar esse discurso interseccional você percebe que é um recorte muito específico”, ressalta Romero.
Afronte surge nesse sentido. “É uma coisa que busco no meu trabalho o tempo inteiro dessas narrativas: da representação do homossexual em cena e agora em um recorte bem específico que é a narrativa das bichas pretas e o quanto esse discurso de empoderamento para os corpos negros e da geração tombamento, às vezes, não está agregado a uma ideia de memória, de ancestralidade”, diz o diretor.
O espetáculo tem direção musical de Filipe Mimoso, direção de movimento de Edeise Gomes, preparação vocal de Joana Boccanera, figurino e maquiagem de Tina Mello.

Serviço
O quê? Afronte – com direção de Thiago Romero e dramaturgia de Daniel Arcades
Quando: 07 a 16 de fevereiro (quarta à sábado), às 19h
Onde: Casa Rosada – Travessa dos Barris, n° 30, em frente a Biblioteca dos Barris
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) – vendas pelo site https://www.sympla.com.br/afronte--akulobee__447984

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