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08/02/2011

CORRUPIO APRESENTA A OBRA DE VIVALDO DA COSTA LIMA

Editora lança trabalho inédito do antropólogo – em que entrevista Olga de Alaqueto – reedita clássico e apresenta dois volumes com artigos. A realização do projeto editorial conta com o apoio financeiro da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia através do Fundo de Cultura.

Conhecedor da cultura baiana, o antropólogo Vivaldo da Costa Lima morreu em 22 de setembro de 2010, ciente de que sua obra seria perenizada. Ainda em vida, ele fez as últimas notas do livro inédito A Comida de Santo Numa Casa de Queto da Bahia, cuja autoria atribuiu à Olga Francisca Régis (Olga de Alaqueto).

O estudioso também já havia conferido as versões editadas de A Anatomia do Acarajé e Outros Escritos e de Lessé Orixá – Nos Pés do Santo, ambos da coletânea Ephemera. Esses livros estão sendo entregues às livrarias pela editora Corrupio, que antes já havia disponibilizado para o público a terceira edição de A Família de Santo nos Candomblés Jejes-nagos da Bahia: Um Estudo de Relações Intragrupais, um clássico do autor.

O lançamento será dia 14 de fevereiro, às 19h, no Espaço Unibanco de Cinema, na praça Castro Alves, e contará com a exibição do filme/entrevista realizado por Geraldo Sarno (2006) e a participação de Cláudio Pereira. Ambos estarão presentes no evento.

Quatro meses após a morte do Professor Emérito da Universidade Federal da Bahia e Obá de Xangô do Ilê Axé Opô Afonjá, as quatro publicações são apresentadas ao público em forma de coleção de textos de Vivaldo da Costa Lima.

A realização do projeto editorial conta com o apoio financeiro do Fundo de Cultura, Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Desde o ano de 2005 que a editora Arlete Soares havia convencido Vivaldo a publicar os seus trabalhos, como um marco que comemoraria os 30 anos de fundação da Corrupio. A proposta foi viabilizada graças aos esforços de Rina Angulo para obtenção de recursos e seu gerenciamento.

A Corrupio já havia feito, do autor, A Família de Santo nos Candomblés Jejes-nagos da Bahia: um estudo de relações intragrupais (segunda edição, de 2003) e ainda Cosme e Damião: o culto dos santos gêmeos no Brasil e na África (2005). “O convívio nos fez aprender muito sobre o antropólogo”, diz Arlete, diretora da Corrupio.

Estilo inconfundível

Editora das publicações, Cida Nóbrega conviveu estreitamente com o pesquisador, desde o momento em que recebeu os primeiros artigos para digitar até os últimos encontros. Ela considera que a importância da coleção reside em proporcionar a visão de conjunto da obra do autor, uma referência na antropologia baiana, a partir de sua tese sobre a “Família de Santo” nos candomblés da Bahia, que teve primeira edição pela Universidade Federal da Bahia, em 1977.

Os trabalhos de Vivaldo da Costa Lima “são escritos num estilo inconfundível, em linguagem culta, com senso crítico apurado e erudição”, analisa a editora, que ainda destaca que a coleção cobre cinco décadas de produção do autor, eminentemente um professor, que tinha a preocupação de gerar textos com função didática.

“Seus trabalhos, mesmo os roteiros de aulas, são preparados começando sempre por uma definição do tema, da metodologia, uma revisão bibliográfica importante – em alguns casos, exaustiva – indicando o que existia escrito sobre o tema em questão nos autores nacionais e estrangeiros e não apenas em livros, mas em revistas e anais”.

O desejo do antropólogo era reunir seus escritos (preparados para fins diversos como aulas, conferências, palestras, participação em congressos e alguns publicados em coletâneas) numa publicação, de modo que pudessem ser apreciados em seu conjunto, organizados por ordem de produção. “Muita coisa ainda restou em seus arquivos e merece ser examinada com vistas a publicação”, avalia Cida.

De Nina a Amado

No seu trabalho, Vivaldo da Costa Lima faz referência a nomes como Edison Carneiro, Nina Rodrigues, Manuel Querino, Câmara Cascudo. “São autores que criaram uma obra importante sem ter os recursos dos autores de hoje que dispõem de acesso a uma vasta literatura sobre os temas que trataram de modo profundo, abrangente e corajoso”, raciocina Cida Nóbrega, justificando a citação dos escritores.

Jorge Amado é uma constante também, talvez pela a ligação com a cultura de sua terra, que conhecia profundamente, incluindo o candomblé, de onde tirou inspiração, argumenta a editora.

Um dos pioneiros do Centro de Estudos Afro Orientais (CEAO), ali Vivaldo se dedicou a estudos sobre a Linguagem do candomblé, de 1967 a 1969. Em 1971/1972, desenvolveu pesquisa para elaboração de sua tese – A família de santo –, para a qual entrevistou os principais líderes de 23 terreiros dos mais significativos e de várias nações encontradas em Salvador.

Agora a Corrupio traz à tona a inédita pesquisa sobre a cozinha sacrificial do terreiro do Alaqueto, com D. Olga Francisca Régis, então mãe de santo da casa (1965).

Amizades

O antropólogo Peter Fry, na quarta capa do Família de Santo, da Corrupio, afirma que a “clareza de exposição e a erudição do autor dão ainda ao texto um valor maior. É um depoimento engajado de um pesquisador de mão cheia, um membro de longa linhagem de grandes intelectuais baianos, para quem o Candomblé é muito mais que um simples objeto de estudos ou curiosidades étnicas”.


Vivaldo nutria admiração e amizade por muitos líderes dos candomblés da Bahia: Mãe Aninha, Mãe Senhora – que conheceu bem –, Olga do Alaqueto, Mãe Stela, Mãe Menininha, Moacir de Ogum. Em alguns terreiros ele teve cargos, como Obá de Xangô do Axé Opô Afonjá, e respeitava as responsabilidades do cargo.

“Ele estudava, admirava a cultura, as tradições, principalmente seus líderes e dava o retorno que dele se esperava”, considera Cida, que cuidou para que as quatro publicações chegassem às livrarias do país com a ortografia ajustada ao acordo ortográfico de unificação da língua portuguesa.

15/12/2010

Maior retrospectiva brasileira da obra de Joseph Beuys chega à Bahia

Itinerância da exposição Joseph Beuys – A revolução somos nós reúne 250 obras do artista alemão no Museu de Arte Moderna

A maior retrospectiva já dedicada à obra do artista alemão Joseph Beuys no Brasil chega dia 13 de dezembro ao Museu de Arte Moderna da Bahia. Joseph Beuys – A revolução somos nós reúne 250 obras criadas de 1964 a 1986, entre cartazes, múltiplos e vídeos.

Realização do SESC São Paulo e da Associação Cultural Videobrasil, a exposição foi vista por 30 mil pessoas em São Paulo. A itinerância baiana é realizada pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia e IPAC.

Com curadoria-geral de Solange Farkas, presidente do Videobrasil e diretora do MAM, a exposição tem como curador convidado Antonio d’Avossa, professor de arte contemporânea na Academia de Brera, em Milão. A ideia central é revelara diversidade de estratégias usadas por Beuys paradifundir suas proposições políticas e filosóficas.

“O pensamento difundido pelos múltiplos, cartazes e vídeos de Beuys não se torna menos instigante conforme o tempo passa”, diz Solange Farkas. “Sobretudo num momento em que a profunda conexão arte/política se reafirma.” “O grande mérito de Beuys é perceber que a criatividade é inata no ser humano”, diz Márcio Meirelles, secretário de Cultura da Bahia.

A ideia de uma arte transformadora e acessível a todos está na base da programação educativa da exposição, com atividades teóricas e práticas conduzidas por artistas como Tuti Minervino e Ayrson Heráclito, e programas para professores, crianças e famílias.

No primeiro dia de visitação, uma cerimônia de plantio de árvores no Jardim das Esculturas, com a participação dos curadores e de representantes do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opó Afonjá, homenageia Beuys e lembra a obra 7000 Carvalhos, criada para a Documenta 7, em Kassel.

Joseph Beuys – A revolução somos nós
De 14 de dezembro de 2010 a 13 de fevereiro de 2011, no Casarão, térreo
Visitação: de terça a domingo, das 13h às 19h; sábados, das 13h às 21h
Cerimônia de plantio de árvores: 14 de dezembro, às 17h, no Jardim das Esculturas
Conferência: Joseph Beuys – A revolução somos nós, com Antonio d’Avossa
14 de dezembro, às 19h, no Auditório.

Programação educativa: até fevereiro de 2011
Programação: www.sescsp.org.br/beuys | Informações: tel. (71) 3117 6141
Museu de Arte Moderna da Bahia
Av. Contorno, s/nº, Solar do Unhão, Salvador, Bahia
Tel. (71) 3117 6139 | www.mam.ba.gov.br | mam@mam.ba.gov.br

A exposição

A partir de uma complexa articulação de referências teóricas, que vão do cristianismo à antroposofia, Joseph Beuys (1921–1986) construiu uma obra referencial para a concepção contemporânea de arte.

O compromisso político, a crença na transformação social como trabalho artístico e o aspecto ritualístico marcam seus trabalhos, que se valem de estratégias variadas – da ação à escultura, da instalação aos debates, da criação de múltiplos às artes gráficas. Seu poderoso vocabulário simbólico passa pelo uso de materiais como feltro e gordura e pela presença do artista, muitas vezes inseparável da obra.

A produção representada pela exposição Joseph Beuys – A revolução somos nós corresponde a um período de intensa atividade política, no qual Beuys adere ao partido ambientalista alemão Os Verdes, cria a Organização pela Democracia Direta por Plebiscito e funda a Universidade Livre Internacional (F.I.U.), instituição de ensino livre com várias sedes na Europa.

Nesse período, Beuys agrega às exposições e performances debates e encontros nos quais defende a ideia de escultura social – a transformação da sociedade como obra artística coletiva, para a qual todo homem, como ser criativo, está apto. O conceito também se desdobra nos slogans que cria e usa repetidamente em suas obras: A revolução somos nós, Todo homem é um artista, Arte=Capital.

É nesse contexto que passa a usar múltiplos e materiais gráficos como veículos de difusão de ideias. “A partir da segunda metade dos anos 1960, os múltiplos e cartazes tornam-se um verdadeiro arsenal de propaganda para a escultura social e o conceito ampliado de arte”, diz Antonio d’Avossa. “Beuys traça com eles uma estratégia paralela à sua obra e integrada a ela.”

Professor de História da Arte Contemporânea na Academia de Brera, em Milão, d’Avossa foi colaborador próximo de Joseph Beuys na fase italiana do artista. Considerado um especialista sobretudo nos aspectos filosóficos da produção de Beuys, criou retrospectivas como Operazione Difesa della Natura (Barcelona, 1993), The Nature of Joseph Beuys (Toronto, 2004) e o Evento Beuys da 52ª Bienal de Veneza (2007).

Cartazes

A coleção de 200 cartazes que estará no MAM é a maior da Europa e aparece reunida em sua totalidade pela primeira vez. Pertencente ao italiano Luigi Bonotto, colecionador também de documentos e obras do grupo Fluxus, é uma amostra significativa dos trezentos cartazes produzidos por Beuys ao longo das décadas de 1970 e 1980.

Eles atestam um percurso intenso de exposições, performances, encontros, debates, projeções, eventos; e revelam o uso da mídia como veículo de ideias e slogans.

“Joseph Beuys não perdeu nenhuma oportunidade de usar esse meio de comunicação de massa para promover suas ideias e dar forma visual ao seu pensamento”, diz d’Avossa.

Assim, um cartaz de 1972 denuncia a demissão de Joseph Beuys da Academia de Belas-Artes de Düsseldorf, onde ocupava a cadeira de escultura monumental, por haver admitido em seus cursos 142 estudantes excluídos da seleção inicial. Outro, que marca a participação do artista na 15ª Bienal de São Paulo, em 1979, reproduz a íntegra da Conclamação para uma alternativa global, manifesto político e estético da escultura social, escrito por Beuys e publicado originalmente em um jornal de Frankfurt, em 1978.

Em 1983, Beuys cria para uma associação de artistas nova-iorquinos um cartaz que é veiculado entre os anúncios do metrô da cidade. Na peça, o slogan CREATIVITY = CAPITAL, que resume o pensamento de Beuys sobre a criatividade como verdadeiro capital humano, aparece escrito em um dos quadros-negros que o artista usa em suas falas.

Um cartaz usa uma escultura de Beuys para anunciar a campanha eleitoral dos Verdes, de 1979; em outro, o artista reutiliza seu retrato criado por Andy Warhol em 1980. “É uma produção que oscila continuamente entre a política e a estética”, diz d’Avossa. “Pode servir tanto para estetizar a política quanto para politizar a estética.”

O interesse dessas obras vai além de seu inegável valor gráfico. “Os cartazes nos convidam a ver a obra de Beuys como um verdadeiro processo de comunicação, de diálogo, dentro e fora do sistema da arte”, diz o curador.