01/10/2010

Artistas falam sobre a importância da política de editais

Desde o início das seleções públicas, em 2007, o Governo do Estado da Bahia já lançou 94 editais de apoio às linguagens artísticas, tendo recebido 5.018 inscrições de projetos de todo o estado e apoiado 1.163 iniciativas com aproximadamente R$ 70 milhões comprometidos para o pagamento desses projetos.Artistas falam sobre importância dos editais.

Este ano, a 17ª edição do prêmio Braskem de Teatro entregou os troféus de reconhecimento aos espetáculos e artistas que mais se destacaram nos palcos de Salvador em 2009. Os espetáculos que receberam apoio dos editais da Secretaria de Cultura estiveram em sete das oito categorias do Prêmio e arremataram cinco troféus. “Uma Vez Nada Mais”, uma romântica história de amor contada do ponto de vista feminino, concorria ainda nas categorias “Direção” (Hebe Alves) e “Categoria Especial” (Brian Knave, pela trilha sonora), além de mais uma indicação à “Melhor Atriz” (Maria Menezes). A peça disputou o troféu de “Melhor Espetáculo Adulto” com outros quatro trabalhos – Shirê Obá, Joana D’Arc (estes dois também apoiados pelo Manoel Lopes Pontes), A Última Sessão de Teatro (que contou com benefícios do projeto Mestres da Cena) e Caso Sério.

Fernanda Julia, diretora do espetáculo “Shirê Obá” é um excelente exemplo da importância de se investir em novos talentos. A jovem diretora vem da cidade de Alagoinhas, do interior da Bahia, onde foi formado seu grupo de teatro, a Cia. de Teatro Nata, que, com mais de 10 anos de existência, tem como eixo as questões históricas, culturais e religiosas afro-brasileiras. Com a Companhia, Fernanda montou peças como Origem, Encanto e Beleza (2000) e Axé! (2003).

Contemplada pelo Edital Manoel Lopes Pontes – Apoio à Montagem de Espetáculos de Teatro 2008, da FUNCEB/SecultBA, Fernanda e seu grupo realizaram o espetáculo Shirê Obá, inspirado na exaltação aos orixás e nos rituais do Candomblé. A montagem rendeu a Fernanda Julia a indicação de “Revelação”, pela direção, no Prêmio Braskem de Teatro deste ano. No mesmo Prêmio, Shirê Obá concorreu na categoria principal, “Melhor Espetáculo Adulto”, e levou o troféu “Categoria Especial” (Jarbas Bittencourt, pela direção musical). Além disso, a peça ganhou o primeiro Prêmio Nacional de Expressões Afrobrasileiras, da Fundação Palmares. “O fato de o espetáculo Shire Obá ter sido contemplado em uma seleção pública como o Edital Manoel Lopes Pontes, da FUNCEB/SecultBA, mostra o ineditismo de um grupo de Alagoinhas ganhar o apoio do Estado”, comemora a diretora.

No currículo, Fernanda tem também a experiência de assistente de direção do espetáculo Policarpo Quaresma, selecionado no Edital TCA.Núcleo, que se realizou como a 13ª montagem do Núcleo de Teatro do Teatro Castro Alves, sob direção de Luiz Marfuz. Agora, Fernanda Julia foi convidada pelo The Royal Court Theatre, de Londres, instituição que investe na descoberta de jovens dramaturgos, para participar de um curso de formação. A SecultBA está apoiando esta viagem da diretora.

“A Secretaria conseguiu olhar para o interior, estimulando a produção e qualificação dos grupos que não estão localizados apenas na capital. A legitimidade do processo e o acompanhamento da comissão de avaliação do edital demonstra qualidade, seriedade e comprometimento em englobar as produções teatrais baianas e permite que o proponente se qualifique”, completa Fernanda Julia.

Manutenção de grupos

O Grupo Dimenti realiza uma pesquisa artística e estética que articula diversas linguagens, principalmente dança e teatro. Formado em 1998, acumula um vasto currículo de espetáculos e prêmios, sendo um dos mais expressivos grupos artísticos da Bahia.

Em 2007/2008, quando o Fundo de Cultura da Bahia – FCBA, vinculado à SecultBA, convocou os artistas, através de chamada pública, a apresentarem projetos de manutenção de grupos artísticos. O Dimenti foi um dos selecionados, com a proposta Dimenti 10 Anos, que se direcionava a ações continuadas de pesquisa artística, documentação videográfica e textual, produção de novo espetáculo, reapresentações, circulação, seminários e capacitação. “Acredito que o apoio à manutenção de grupo é muito importante porque possibilita que os artistas sejam remunerados por tempo de pesquisa, estudos e ensaios, o que é bastante difícil quando falamos num edital de montagem, por exemplo, já que os custos para levantar um espetáculo já são bastante elevados. Nunca tínhamos recebido um apoio desta natureza, que é para garantir uma boa condição de trabalho para os integrantes do grupo e possibilitar o investimento em profissionalização”, explica Ellen Melo, responsável pelo Grupo.

Depois, com apoio do Edital Yanka Rudzka – Apoio à Montagem de Espetáculos de Dança 2008, da FUNCEB/SecultBA, montou a coreografia Um Dente Chamado Bico. “Especificamente para a produção, é também fundamental, pois, como costumo dizer, o trabalho não para: vai do planejamento à pós-produção, passando por contabilidades mensais, atualização de sites, organização de arquivos, inscrição em festivais e por aí vai. Agora, ganhamos também o Edital de Manutenção da Petrobras 2009, que se estenderá durante dois anos. Isso é um grande reconhecimento de nossas atividades continuadas”, comemora Melo.

Quem também reconhece a importância da política de editais é o dançarino Robson Correia. Formado em 2008 pela Escola de Dança da FUNCEB, o diretor, coreógrafo e dançarino tem no currículo, como intérprete e/ou diretor, 15 espetáculos de dança, 13 de teatro e quatro de ambas as linguagens. Integrou algumas companhias de dança da Bahia e atualmente dirige seu próprio grupo: Cia. de Dança Robson Correia.

Durante sua permanência na Escola de Dança, buscou entender os mecanismos de apoio do Estado e pôs-se a investir em realizações. Comprometido e engajado, Robson está conquistando espaço e está envolvido em sete projetos vencedores de editais da FUNCEB/SecultBA: Quarta que Dança 2007, com o espetáculo Triscou, Pegou!; Ação Artístico-Educativa em Dança 2007, com o projeto Corpo em Movimento; Quintas do Teatro 2008, com os espetáculos Embuchou, Casou! e Retalhos Populares; Ocupação de Espaços Culturais 2008, mais uma vez com Triscou, Pegou!; Quarta que Dança 2009, com o espetáculo Nac-Horuc; e Ninho Reis – Apoio à Circulação de Espetáculos de Dança 2009, outra vez com Triscou, Pegou!, levando o espetáculo para Irecê, Baixa Grande e Conceição do Jacuípe.
Através de edições do Calendário de Apoio a Projetos Culturais, da FUNCEB, Robson realizou o espetáculo Cirandarte, o projeto O Giro da Dança e a montagem de Triscou, Pegou! em pontos distintos de Salvador. Já em 2010, com apoio do Fundo de Cultura da Bahia, está promovendo o Circuito da Dança.

“Eu estudava na Escola de Dança e cursei, lá, uma disciplina chamada ‘Elaboração de Projeto de Pesquisa’. Não era o foco desta disciplina a estruturação de projetos de ação e execução, tal como é necessário para inscrever em editais, mas eu tinha aprendido a fazê-los, e aprendi que é preciso sempre pensar em para quem você está levando o projeto”, explica Robson.

“Acredito na política de descentralização e diversidade que está sendo fomentada nesta gestão, e minhas propostas se baseiam neste sentido. Os editais estão permitindo que eu me desenvolva não só como artista, mas também enquanto gestor. Os editais estão permitindo que artistas iniciantes possam viver de seu trabalho e se estabelecer. E eu analiso o princípio de que não era assim. A distribuição do apoio do Estado era restrita e, agora, não só eu estou ganhando; muitos outros estão – e eu estar ganhando já é uma mudança clara. Existe uma questão assim: está bom? Ainda não. Há burocracias minuciosas e muito detalhadas, diligências lentas, é preciso aprimorar a agilidade. Mas o fomento do Estado em relação à cultura melhorou bastante e está caminhando certo”, completa o dançarino.

Bandas de rock foram beneficiadas pelos editais

Formada em 1992, a banda de rock Cascadura tem uma sólida carreira construída no cenário independente nacional, sendo um dos mais importantes representantes da música contemporânea da Bahia. Seu quarto e mais recente álbum, Bogary, lançado em 2006, é um dos mais celebrados discos do rock brasileiro desta década.

A partir do Bogary, a Cascadura produziu, com apoio do Edital de Produção de Conteúdo Digital em Música 2007, da FUNCEB/SecultBA, o documentário Efeito Bogary, cujo formato mistura músicas executadas ao vivo em estúdio com entrevistas e depoimentos, reunindo a banda e outras 20 personalidades da música e do jornalismo cultural, tais como Lobão, Nando Reis, Pitty, Felipe Machado (editor de cultura do jornal O Estado de São Paulo) e Ricardo Cruz (editor-chefe da revista Rolling Stone Brasil). Com este conteúdo criado, já extrapolando e multiplicando o resultado obtido através do edital, o grupo editou e lançou, em 2009, o primeiro DVD comercial do rock independente da Bahia, também intitulado Efeito Bogary. “Ainda que não tenha sido a única fonte para finalizar a produção, esse edital nos trouxe a possibilidade de dar o 'start' de uma iniciativa inédita do rock independente local”, explica Fábio Cascadura.

Agora em 2010, em plena pesquisa para encontrar o conceito viável que justaponha a personalidade artística da banda e um discurso renovado, que pretende dialogar com as mais diversas esferas da cultura da cidade de Salvador, a Cascadura recebeu a feliz notícia da seleção do projeto de realização de seu quinto disco, já batizado de Aleluia, no Edital Apoio à Produção de Conteúdo em Música 2009, da FUNCEB/SecultBA. As gravações já foram iniciadas. “Esse apoio vem para nos permitir uma melhor condição na realização de um projeto mais ambicioso artisticamente. Pretendemos lançar mão de novos arranjos, escritos por gente daqui, executados por gente daqui, gravado por gente daqui, mas também contaremos com a participação de artistas convidados de outras cidades e estados. Receber o apoio desse edital tem sido fundamental para atingirmos os objetivos nesse novo trabalho que é o Aleluia. Edital é um mecanismo que procura ser transparente e avaliar propostas culturais democraticamente”, completa Fábio.

De Ilhéus, a banda OQuadro foi formada em 1996, também é testemunha da efervescência cultura do estado. Representante do estilo Hip Hop, o grupo nasceu em uma escola pública ilheense e apresenta, atualmente, shows com três MC’s (mestres de cerimônia), que executam suas rimas precisas e consistentes em conjunto com as batidas programadas, citações de vinis e interferências de um DJ, tal como tradicionalmente se espera do estilo – mas sem deixar de inovar: porque trata-se de uma banda de fato, e seus tambores também são artesanais, e não apenas digitais, e suas bases são tocadas ao vivo. A obra artística de OQuadro é uma celebração da identidade universal do negro, a partir do olhar de negros do interior baiano.

OQuadro carrega o mérito histórico de ter sido a primeira banda de Hip Hop a se apresentar no Teatro Castro Alves, na Sala do Coro, em agosto de 2008, através do projeto Segundas Musicais, realizado com artistas selecionados em edital da FUNCEB/SecultBA. Também levaram o ritmo para o carnaval de Salvador, em 2009, no trio elétrico independente Bahia Sound System, oportunizado pela SecultBA. Consagrando seus méritos, o projeto O Quadro em 3 foi contemplado pelo Edital Vivaldo Ladislau – Apoio à Circulação de Música 2008, também da FUNCEB/SecultBA.

A proposta da banda OQuadro no Edital Vivaldo Ladislau era fazer um registro da cena de Hip Hop na Bahia. A banda é formada desde 1996 e possivelmente é a primeira banda do gênero na Bahia, no interior baiano. “O edital nos ajudou a realizar atividades que fortalecessem a diversidade cultural do Hip Hop, com apresentações no sertão baiano (em Xique-xique, Feira de Santana) e em Salvador, com qualidade e boa estrutura”, explica Edson Ramos, um dos membros da banda.

Intercâmbio, educação, literatura e patrimônio

A criadora intéprete em dança contemporânea e VJ, Ana Pi, foi selecionada no Prêmio de Residência Artistica 2009 da SecultBA e viajou para França, onde desenvolveu seu trabalho no Centre Chorégraphique National de Montpellier. “A oportunidade de participar do programa de residência artística da Secretaria de Cultura possibilitou o desenvolvimento do meu trabalho de um modo outro, experimentando culturas e compartilhando meus saberes”, relata Pi. “A distância me fez entender a importância do diálogo/intercâmbio, como também, a potência da nossa cultura por um novo ponto de vista. Esta experiência além de ter me fortalecido profissionalmente me abre a possibilidade de difundir aqui, com os outros profissionais e sociedade em geral, o conhecimento construído durante este período de trabalho lá, ampliando e abrindo portas para nossa cultura e produção em arte contemporânea”, completa a artista.

O projeto CORPO NA EDUCAÇÃO trata de uma pesquisa do corpo e do movimento como ferramenta importante no processo pedagógico e de reconhecimento do outro e das suas diferenças no convívio social. “Agradeço a Secretaria de Cultura, pois esta experiência significou um real crescimento e amadurecimento de minha pesquisa profissional e que nunca teria conseguido se não fosse por meio de incentivo de alguém que acredita também na importância desta ação e da valorização da educação no Brasil”, conta a educadora Ana Luiza Reis.

Sobre a política de editais, Carlos Alberto Etchevarne, proponente do projeto "Programa de Educação Patrimonial para a Preservação e Gestão de Sítios de Arte Rupestre da Chapada Diamantina" diz que considera extremamente importante. “Os órgãos públicos destinados a trabalhar com o patrimônio devem incentivar o estudo, a análise e a pesquisa sobre seu patrimônio, a fim de educar as pessoas e sensibiliza-las para a preservação e a gestão do mesmo”, diz Etchevarne.

Na área da literatura, os resultados também são visíveis. “O edital para autores baianos é excelente, porque é muito difícil lançar um livro de forma independente. Os editais trazem esta oportunidade para quem escreve, e principalmente para aqueles que ainda não têm espaço nas grandes editoras. Hoje, é a melhor maneira que o escritor tem para ver sua obra publicada. Deve continuar para proporcionar as pessoas que escrevem e gostam de literatura”, elogia Cecy Ramos, ganhadora do Edital de Edição de Livros de Autores Baianos, com a obra A Península de Itapagipe em Quadrinhos, que tem ilustração de Antonio Cedraz, autor da Turma do Xaxado.

“A iniciativa dos editais para a cadeia do livro é excelente. É uma maneira de você ter acesso aos
recursos públicos, e poder publicar seu trabalho, mas precisa aprofundar os mecanismos. Ainda
falta rapidez nos pagamentos”, jornalista e poeta, Kátia Borges, ganhadora do Edital de Edição de
Livros de Autores Baianos, com o livro TICKET ZEN.

“Estou felicíssima com essa parceria com a Fundação Pedro Calmon que garantiu a inauguração da biblioteca de Iaçu. Temos conseguido um número significativo de leitores. Estamos desenvolvendo um projeto de cinema na biblioteca que é o maior sucesso. Vamos às unidades escolares e agendamos as turmas que movimentam este espaço. A Biblioteca está com um número de visitação bastante interessante que desfrutam deste importante espaço de cultura e conhecimento”, Roseli Louzada, secretária de Educação do município de Iaçu que foi contemplado com uma Biblioteca, implantada em junho de 2009, fruto do Programa Livro Aberto, do Ministério da Cultura.

“A cidade de Macaúbas era uma antes, agora parece ser outra depois da biblioteca. Até o estilo de
vida das pessoas parece ter mudado. Deu um novo brilho a cidade. As pessoas estão freqüentando, e muito, a biblioteca. Tem sido de grande valor para todos que gostam da leitura. A biblioteca tem sido importante para todos os públicos, dos estudantes da educação infantil aos universitários”, confirma Liane de Oliveira, secretária de Educação do município de Macaúbas. A biblioteca foi implantada na cidade em setembro de 2009.

Fomento e reformas

Atualmente a Secretaria de Cultura dispõe de diversas formas de apoio a projetos, reembolsáveis e não reembolsáveis: o Fundo de Cultura da Bahia (demanda espontânea, chamadas públicas e editais), Fazcultura (renúncia fiscal), Credibahia Cultural (Microcrédito), Credifácil Cultura (Linhas de Crédito Fixo e Giro), Calendário de Apoios, além de programas específicos como o Carnaval Ouro Negro, Carnaval Pipoca, Apoio às Instituições Culturais, Apoio às Filarmônicas e Apoio Cultural do Irdeb.

Para o secretário Márcio Meirelles, os quatro anos de gestão foram estruturantes e é preciso avançar mais. “Aumentamos os investimentos, distribuímos recursos em todo o estado, criamos mecanismos claros e democráticos de acesso às verbas públicas. Investimos na capacitação de produtores e graças a isso a Bahia tem conseguido se inscrever também em programas federais”, comemora Meirelles. “Ao mesmo tempo, realizamos as conferências, debates, seminários e temos uma radiografia do estado da Bahia com indicações dos próximos passos para que a Cultura venha a ter um papel ainda mais importante. Isso envolve uma ampla reforma administrativa e a aprovação de leis fundamentais na Assembléia“, encerra Meirelles.

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