05/03/2011

Jovens marcam presença no desfile do circuito Batatinha



Entidades de matriz africana realizam trabalhos sociais em bairros pobres de Salvador, utilizando a alegria do Carnaval para atrair os jovens.

“No Carnaval, esses jovens se sentem reis e rainhas”. A fala de Rita Pinheiro, diretora do bloco Afro Bogun, durante o desfile da entidade, no Circuito Batatinha, define o que se viu na noite desta sexta-feira, 04/03, no Centro Histórico de Salvador.

Jovens e crianças de bairros pobres de Salvador, como Pirajá, Rio Sena, Pau Miúdo, Saramandaia, entre outros, encheram de alegria as ruas por onde desfilaram com os blocos de matriz africana. Na percussão, nas alas de dança, jogando capoeira, fazendo roda ou como foliões, os jovens revelaram que a tradição dos blocos afros e afoxés também interessa aos carnavalescos de menor idade.

O Afro Bogun tem cinco anos e foi criado a partir de um projeto social que, há oito anos, atende a juventude do Engenho Velho de Federação com aulas de percussão, dança, iniciação musical e teatro. “O Carnaval atrai os jovens e é um meio para despertá-los para coisas boas, desviando da violência”, ressaltou Rita Pinheiro.

Percussão - Em todas as entidades que desfilaram a presença de jovens era significativa.

No Arca de Olorum, o jovem regente Jadson Gomes falou do orgulho em coordenar o projeto social do bloco com aulas de percussão para 70 meninos e meninas do bairro do Rio Sena, Subúrbio Ferroviário de Salvador. Outras dezenas formavam a animada ala de dança e exibiam coreografias para antigos sucessos do samba reggae, seguidos pelo público que prestigiava o desfile na Rua Chile.

No Carnaval da percussão, os blocos do Batatinha fizeram valer a homenagem. Até as crianças do bloco afro juvenil Mutuê dançaram roda ao ritmo da forte percussão do bloco criado no Engenho Velho de Brotas, em 1975.

No eclético repertório do afro Amigos do Babá, houve espaço para o hino panafricanista Nkosi Sikelele África que agradou o homenageado do bloco, o historiador Ubiratan Castro.

“Os blocos afro e afoxés são os responsáveis pela manutenção no Carnaval das heranças africanas tão importantes para a formação da cultura baiana. E a presença desses jovens revela que essa tradição não se perderá facilmente”, destacou Castro.

Religião - O Amigos do Babá foi criado no bairro do Pau Miúdo, em 1992. Este ano, o bloco trouxe para o desfile o afoxé Omó Izó (filhos do fogo, na língua iorubá), de Jauá / Camaçari, que pela primeira fez participou do Carnaval de Salvador.

Presente ao desfile, a Ialorixá Tundé Ikan e seus filhos do terreiro Ilê Axé Odé Obá, onde nasceu o afoxé há três anos, pediram apoio para as entidades afro de Camaçari. Outra líder religiosa que desfilou no Circuito Batatinha foi Mãe Lélia, do bloco afro Relíquias Africanas, do bairro de Pirajá.

Criado há nove anos, o Relíquias é o único bloco do Carnaval a ter um artista cadeirante: o cantor e compositor Marcílio J. que comandou os foliões com muito samba reggae.

Na diversidade musical do Circuito Batatinha, houve espaço para a homenagem do bloco Chamego Afro a Lucky Dube, reggaeman sulamericano morto em 2007 e para o arrocha dos cantores Pablo e Nira Guerreira, no bloco de percussão Mutantes.

Desfilaram ainda os blocos Zambiã, Gera a Dois, Furacão 2000, Segure o Samba Não Deixe Cair, África Bahia, Afro Liberdade, Com Todo Gás, Alabê, Agbara, e o popular Olodum que veio do Pelourinho e arrastou uma multidão em direção ao Campo Grande, com as músicas que anunciavam o tema deste ano “Tambores, Papiros e Twitter: a evolução da escrita”.

Todos os blocos citados integram o Carnaval Ouro Negro, programa de fomento da Secretaria Estadual de Cultura/SecultBA, voltado para as entidades de matriz africana. Para conhecer a seleção completa de blocos do Ouro Negro, acesse: www.carnavalouronegro.ba.gov.br

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