26/01/2012

Bel Borba (se) expõe AQUI, em Sete Elementos



A criatividade de um dos mais completos artistas baianos ganha mostra no Palacete das Artes Rodin Bahia e faz a Fonte Nova ressurgir dos escombros.

O universo é formado por quatro elementos: fogo, terra, ar e água. Há quem acredite que são cinco. O universo de Bel Borba é formado por sete. Sete “Belementos”, de acordo com Burt Sun, curador da exposição que desde o dia 13 de janeiro ocupa o Palacete das Artes Rodin Bahia, promovida pela Diretoria de Museus do IPAC e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Aberta ao público de terça a domingo, até o dia 23 de março, a mostra tem visitação gratuita, das 10 às 18 horas.

Aqui, em Sete Elementos é o nome da mostra que espelha a própria vida e obra do artista e traz à tona a forma como Bel vê e se relaciona com o próprio mundo. Serão setenta dias – ou um piscar d’olhos – para conferir a diversidade de Bel Borba, suas múltiplas facetas, a partir de sua produção mais atual, separada em grupos criativos, os tais Belementos: Fonte Nova, Traço de Luz, Tapetes Voadores, Bela, Treeth (do inglês tree+teeth), Azulejo da Vida e Cidade.

Cápsula do Tempo

“Tudo à nossa volta tem, em si, uma quantidade incrível de informações, uma narrativa própria. É preciso estar atento para perceber”, considera o artista. A maior prova desse pensamento está nesta que, se não é a maior, possivelmente é a exposição mais “pesada” que Salvador já viu.

Logo na entrada, paredes pretas contrastam com peças alvas com mais de cinco metros de altura, quase três metros de base e mais de sete mil quilos de peso. É a Fonte Nova que ressurge diante do público, em monólitos lapidados minuciosamente por Bel e que parecem ainda vibrar a emoção que está guardada ali.

Blocos remanescentes das colunas que sustentaram um templo de paixões para os baianos e que agora, como cápsulas do tempo, nos conduzem da perplexidade a um contato inevitável com sensações íntimas, anseios, lembranças. “Quando eu olho para esses destroços, eu posso ouvir o som e os ecos das pessoas que em algum momento ali estiveram, choraram, gritaram com euforia, brigaram...”, conta o artista. “Acredito que o público vá sentir o mesmo”, incita.

Estamos acostumados ao Bel que recicla e ressignifica a matéria comum, assim como símbolos e o próprio tempo guardado na memória de quem observa suas criações. Mas desta vez ele vai além e consegue nos fazer reviver – coletivamente – um ícone, a partir das vivências pessoais de quem visite a exposição. Não seria exagero dizer que o próprio Bel se superou.

Mesmo tendo acompanhado todo o processo, o curador da mostra conta que ficou de queixo caído quando viu o resultado. “É muito expressivo e surpreendente em cada detalhe”, justifica. Para o galerista Paulo Darzé, Aqui, em 7 elementos apresenta “trabalhos de altíssima qualidade e valor criativo e que só um artista senhor do seu fazer - um artista pleno - poderia produzir”.

Mundo de Bel

“No mundo de Bel não há limites de onde ele pode tirar inspiração. Presenciar seu processo criativo é como testemunhar um ato de magia”, analisa Burt Sun, que convive com Bel Borba há cerca de seis anos, quando se surpreendeu com a qualidade das obras do artista espalhada pela cidade. Daí nasceu a ideia para um filme - Bel Borba Aqui - trabalho que pretende documentar o dia a dia de Bel e seu processo criativo para encontrar de que modo isso reflete sua paixão por Salvador.

Foi o conceito do filme e os trabalhos que foram sendo produzidos para ele que inspiraram a exposição. “Queremos que o público sinta como Bel produz suas obras e consegue solidificar ideias em algo concreto”, revela Burt. Pequenos trechos já filmados estão na mostra, em forma de vídeo-instalação.

Apesar do grande impacto da mostra, o passeio pelas obras revela muito do perfil bem humorado e divertido do artista. O que você acharia de encontrar uma sala repleta de fotos de gente banguela sorrindo? Essa é parte do inusitado de Treeth. Sobre os azulejos Bel desenha uma story board autobiográfica com traço inconfundível. O curso da vida também está presente em Bela, seção em que homenageia a filha pequena. Enaltece o bairro do Rio Vermelho, que tanto ama, em uma brincadeira com luzes usadas para compor imagens de seu imaginário.

Com os Tapetes Voadores ele cria jogos e mensagens sobre temas como religiosidade e metafísica. Por fim, Cidade é uma tentativa de definir como Bel está impregnado de Salvador, assim como a cidade também está repleta dele: um mapa da capital baiana vai ilustrar, a céu aberto, os 35 anos de arte de Bel, tendo a cidade como musa, parceira e galeria. “Nossa expectativa é de que, após visitar a exposição, o público seja estimulado a caminhar pelas ruas e vivenciar a cidade através das obras e da visão de um apaixonado por Salvador”, explica Burt.

Aqui, em Sete Elementos revela a nova experiência do artista em seu encontro com a morte, amor, luxúria e renascimento. Momento em que seu trabalho alcança grande maturidade e sua vida pessoal passa por mudanças significativas, como a morte da mãe e o nascimento da primeira filha, aos cinquenta e quatro anos.

Sobre Bel Borba

O fotógrafo e consultor de arte Burt Sun, responsável pela organização da exposição, vive entre Nova Iorque e Salvador e transita em galerias americanas, européias e brasileiras. Mesmo com convivência de amigo, ele diz ainda ficar deslumbrado com a forma como Bel cria e recria objetos e símbolos que podem ser facilmente compreendidos e decifrados por todos.

Bel Borba e sua arte urbana se insurgem contra o panorama ameaçador da cidade, com invasão de automóveis, velocidade perigosa, engarrafamentos, deserto de pessoas e muitas formas de violência, na opinião do Secretário de Cultura, Albino Rubim. “Sua rebeldia traduzida em marcantes intervenções produz experiências, sentidos e olhares (...) produz significados e sentimentos de pertença na devastadora selva de pedra, árida de sentidos. Sua singular intervenção reanima e revitaliza os espaços públicos”, considera o secretário.

“Para o Palacete das Artes Rodin Bahia é uma honra receber esse irrequieto e inventivo artista que faz das ruas das cidades suas galerias”, declara Murilo Ribeiro, diretor do Museu. Paulo Darzé complementa: “A obra de Bel Borba é um presente para a cidade e bastaria isto para colocá-lo como uma das maiores expressões na arte do Brasil”.

SERVIÇO:

Bel Borba - exposição AQUI. em 7 elementos |curador: Burt Sun

Palacete das Artes Rodin Bahia - Rua da Graça 284, Graça, Salvador - Bahia [mapa] || www.palacetedasartes.ba.gov.br

De 13/1 a 23/3 - de terça a domingo, das 10h às 18h

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