02/10/2013

Urbanista colombiano defende mais espaços para os pedestres e a redução na circulação de carros na capital baiana

O ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, encerrou a edição 2013 do Fronteiras do Pensamento em Salvador, projeto apresentado pela Braskem e Governo da Bahia, através do Fazcultura.

"Para ser considerada sofisticada uma cidade não precisa ser cheia de automóveis. Os carros não podem ser mais importantes do que as pessoas. Cidades sem carros não são uma ilusão hippie". Com essa afirmação, o urbanista e economista colombiano Enrique Peñalosa, iniciou sua conferência no projeto Fronteiras do Pensamento Salvador, nesta terça-feira (01), para um público que lotou o Teatro Castro Alves. Horas antes do evento, apresentado pela Braskem e pelo Governo da Bahia, através do Fazcultura, os ingressos já estavam esgotados.

Na plateia, muitos políticos e autoridades, além de professores e estudantes de arquitetura e urbanismo ouviram atentamente os conselhos de Peñalosa. Durante a sua gestão a frente da Prefeitura de Bogotá (1998 a 2001), o urbanista modificou o cenário da capital colombiana, antes considerada uma das mais violentas e corruptas do mundo. A cidade, inclusive, recebeu em 2006 o Leão de Ouro - prêmio mais importante da Bienal de Arquitetura de Veneza.

Segundo Penãlosa, a solução para os engarrafamentos nas grandes cidades passa pela proibição de carros trafegando pelas ruas. “Por que os cidadãos ricos de Paris, Nova Iorque e Zurique usam o transporte público? Porque nessas cidades a utilização de automóveis é reduzida. Em Copenhague, capital da Dinamarca, 40% da população se deslocam de bicicleta, apesar da temperatura de até 10 graus negativos”, exemplifica.

Para o urbanista, “a democracia é transporte urbano fluindo em alta velocidade em faixas exclusivas, enquanto os carros ficam parados no engarrafamento”. Peñalosa ratifica que “as faixas exclusivas para ônibus não são a melhor solução para Salvador. É a única”. Ele desafiou os estudantes de arquitetura e urbanismo presentes na conferência a criarem projetos que transformem as atuais avenidas da capital baiana em vias arborizadas, com calçadas mais largas e com faixas exclusivas para bicicletas e para ônibus.

Durante seu mandato em Bogotá, Peñalosa construiu e reconstruiu mais 1,1 mil parques e orgulha-se de ter incentivado o plantio de mais de cem mil árvores, além da construção de 250 km de ciclovias, o aperfeiçoamento do sistema BRT (Bus Rapid Transit) e a ampliação ruas, parques e alamedas para trânsito exclusivo de pedestres.

Peñalosa travou algumas batalhas que quase custaram seu mandato – como a remoção de carros das calçadas e extinção de vagas para estacionamento em frente a lojas e prédios. “Não conheço a Constituição Brasileira, mas em nenhum lugar do mundo o direito de estacionar é assegurado por lei. Onde as pessoas vão estacionar não é um problema do governo e sim privado”, afirma.

Presidente do Institute for Transportationand Development Policy – ITDP, organização não governamental norte-americana que presta assistência técnica no desenvolvimento de meios de transporte sustentáveis na Ásia, África e Américas, Enrique Peñalosa defende cidades sem carros. “Se todos os homens são iguais perante a lei, um ônibus tem 80 vezes mais direito ao espaço urbano do que um carro de passeio”, filosofa Peñalosa.

Para o urbanista as autopistas urbanas destroem as cidades, dando o exemplo da BR-324 e da Avenida Luiz Viana Filho, mais conhecida como Avenida Paralela que, segundo ele, segrega os moradores nas suas margens. O ex-prefeito de Bogotá defende a ideia de cidades com igualdade social e qualidade de vida. “Uma boa cidade não é onde os pobres andam de carro, mas os ricos trafegam de ônibus. Em uma boa cidade, ricos e pobres se encontram em espaços públicos, em parques e calçadas”, reitera.

Sobre o Fronteiras do Pensamento

O Fronteiras do Pensamento é um projeto cultural múltiplo que aposta na liberdade de expressão intelectual e na educação de qualidade como ferramentas para o desenvolvimento. Através de uma série anual de conferências em algumas capitais brasileiras, o Fronteiras abre espaço para o debate e a análise da contemporaneidade e das perspectivas para o futuro, apresentando pensadores, cientistas e líderes que são vanguardistas em suas áreas de pesquisa e pensamento.

Temas, ideias e personalidades que moldam o nosso tempo ocupam o palco do Fronteiras, que tem como valores básicos o pluralismo das abordagens e o rigor acadêmico e intelectual de seus convidados. Desta forma, busca avaliar tendências, aceitando a provocação destes que são, hoje, alguns dos mais renomados pensadores em atuação no mundo, constituindo uma linha interdisciplinar de pensamento.

Em seus sete anos de existência, o Fronteiras do Pensamento conta com mais de 150 conferências realizadas para milhares de espectadores. O Fronteiras “quer trazer para o debate temas imprescindíveis, dando aos espectadores uma visão real dos próximos dez ou vinte anos, nas diferentes áreas contempladas”, Fernando Schüler, curador.

A Braskem é a maior produtora de resinas termoplásticas das Américas. Com 36 plantas industriais distribuídas pelo Brasil, Estados Unidos e Alemanha, a empresa produz anualmente mais de 16 milhões de toneladas de resinas termoplásticas e outros produtos petroquímicos. Maior produtora de biopolímeros do mundo, a Braskem tem capacidade para fabricar anualmente 200 mil toneladas de polietileno derivado de etanol de cana-de-açúcar.

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