30/04/2014

SONATA DE OUTONO, PRIMEIRO ESPETÁCULO DO PROJETO BAIANO "BERGMAN NO TEATRO", ESTREIA EM SALVADOR


Fotos: Alessandra Nohvais.


· Montagem ocupa o palco do Teatro Martim Gonçalves, a partir de 2 de maio

· Peça tem direção de Aimar Labaki e reúne profissionais da Bahia e São Paulo

· Com anuência da Fundação Bergman, da Suécia, projeto engloba diversas atividades

O projeto baiano Bergman no Teatro, que vai levar para o palco roteiros de cinema escritos por Ingmar Bergman, estreia seu primeiro espetáculo, Sonata de Outono, em 2 de maio, no Teatro Martim Gonçalves, onde cumpre sua primeira temporada, ate 1º de junho. O ingresso é trocado por um livro de literatura (prosa ou poesia), em benefício de bibliotecas comunitárias.


A peça tem versão teatral (dramaturgia e direção) assinada por Aimar Labaki, de São Paulo, com um currículo de prêmios e importantes montagens no cenário brasileiro. Ele e Cristina Leifer, atriz e mentora do projeto, reuniram uma equipe artística e técnica de profissionais dos dois estados trabalhando em conjunto.

Sonata de Outono narra o reencontro de mãe e filha após um hiato de sete anos. Charlotte (mãe), uma renomada pianista, vai até a afastada casa de sua filha (Eva), emocionalmente fragilizada, e, ao chegar, surpreende-se ao encontrar sua outra filha, que tem problemas mentais. A tensão entre Charlotte e Eva cresce vertiginosamente até convergir para uma dura batalha de verdades, acertos de contas e ressentimentos.

Do humano

O filme tornou-se um dos textos mais celebrados do cineasta Ingmar Bergman e, mais de 35 anos depois da estreia, ganha sua primeira versão teatral na Bahia, no âmbito do projeto que tem anuência da Fundação Ingmar Bergman, na Suécia. Além da chancela, Bergman no Teatro tem apoio cultural da Universidade Federal da Bahia, Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão e da Escola Brasileira de Psicanálise. Já a montagem teatral conta também com apoio financeiro da Fundação Cultural do Estado da Bahia.

“Os roteiros de Bergman são literários. Seus temas são da ordem do humano e falar do humano hoje, no teatro, que é uma arte viva, é de extrema importância. A maioria das pessoas está cada vez mais fechada em mundos virtuais, fugindo da realidade e da sua própria humanidade”, observa Cristina Leifer, que escolheu Sonata de Outono para abrir o projeto Bergman no Teatro. "O texto fala da nossa primeira relação de amor, a materna. Eu escolhi esse tema porque nessa relação parental está a origem de muitas confusões e destruições humanas”, justifica a atriz, que também tem formação em Psicologia.

Cristina interpreta a filha Eva, e divide o palco com os atores Thaia Perez, no papel da mãe Charlotte, e Plínio Soares, que vive os personagens masculinos da peça. O elenco conta também com a participação em vídeo da atriz Adriana Londoño. A encenação de Aimar Labaki lança mão de recursos audiovisuais, na busca de um diálogo com o teatro. “É claro que o fato de ser originalmente um filme escrito e dirigido por um homem de teatro - e Bergman, antes de tudo, era um homem de teatro - leva a que se incorpore o uso do audiovisual de forma mais natural”, contextualiza o diretor.

Miguel Rodrigues (que integrou o núcleo de direção da série Na Forma da Lei, indicada ao Emmy internacional, e das novelas como Cobras e Lagartos e Duas Caras, da Rede Globo) assina a direção, produção e edição do vídeo que integra o espetáculo Sonata de Outono.

Referências

Aimar destaca: “O espetáculo Sonata de Outono é a minha versão para teatro do filme de Bergman”. A afirmação diz muito à qualquer intenção ou mesmo expectativa de querer ver o filme no palco. “Teatro e Cinema são duas linguagens muito diferentes. Não dá para montar um filme no palco. Dá para montar uma peça a partir do filme, assim como se fazem peças a partir de livros, histórias, poemas etc.”, pontua o diretor, que promoveu algumas alterações no texto, como cortes, mudança na ordem das cenas e em alguns diálogos, com vistas à maior teatralidade: “Não alterei o sentido nem o ponto de vista de Bergman”.

O convite para dirigir Sonata de Outono partiu de Cristina Leifer, que conheceu o diretor e dramaturgo em 2002, quando trabalhou como atriz e produtora na montagem de um dos seus textos, A Boa. Ela lista os critérios que a motivaram, 12 anos depois, a chamá-lo para erguer a montagem. Entre eles, sensibilidade, intelecto, paixão pelo teatro e experiência. Até então, Aimar nunca havia pensado em encenar um texto de Bergman, embora destaque os filmes do cineasta sueco essenciais para sua formação pessoal e artística. Quando a oportunidade apareceu, “este texto me pareceu perfeito para o teatro”, diz.

Na montagem, o diretor faz referências a outros dois filmes de destaque na trajetória de Bergman: Fanny e Alexander e Persona. “A obra dele é um todo, do primeiro ao último filme. Há temas, personagens, situações, citações reconhecíveis e intercambiáveis. Mesmo nos primeiros filmes, obras de encomenda, exercícios de estilo para um estúdio, já se veem ali os sinais do artista. Montar um espetáculo a partir de um texto dele leva naturalmente à citação de outros trabalhos”, comenta Aimar.

O PROJETO

Além do espetáculo Sonata de Outono, Bergman no Teatro engloba também um mostra de filmes e atividades reflexivas. Este ano, o projeto já realizou, em Salvador, a exibição gratuita de sete filmes de Ingmar Bergman. A mostra serviu de suporte para um curso ministrado pelo pesquisador e jornalista Sergio Rizzo, também atividade extensiva do projeto. Além disso, Bergman no teatro promoveu um debate que discutiu a interface entre cinema e teatro na obra de Bergman. Mais informações sobre Bergman no Teatro: www.bergmannoteatro.com.br.



SERVIÇO

Espetáculo: Sonata de Outono

Local: Teatro Martim Gonçalves (Escola de Teatro da UFBA – Canela)

Datas: de 2 de maio a 1º julho (sexta a domingo)

Horário: 20h

Ingresso: livro de literatura (prosa ou poesia)

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