05/05/2016

Exposição "Corpos Tangíveis" chega ao Palácio Rio Branco




Foto Rosilda Cruz

Depois de participar de produções como o filme Cidade Baixa, o cenógrafo Cláudio Freitas se dedica às esculturas   

Madeira, vidro, cobre, conchas, gudes, lâminas de ouro. Com esses materiais (e outros que inspirem), o cenógrafo soteropolitano de 57 anos, Cláudio Freitas - conhecido como Gringo - elaborou as esculturas que compõem sua primeira exposição, "Corpos Tangíveis", em cartaz a partir de hoje (05/05), no Palácio Rio Branco. "Raio", "Olho de Hórus", "Planos", estão entre as 17 esculturas inéditas, vistas antes apenas pelos amigos mais íntimos.

"Quando eu vi aquelas esculturas no ateliê, aquilo me chamou atenção. A madeira é uma matéria muito enigmática e a maneira com que ele a transforma é surpreendente. Quando surgiu a oportunidade de fazer a exposição no Palácio, lembrei logo dele", conta a produtora da exposição, Megg Chaves.

Com 27 anos de carreira, Gringo é autodidata e tem no currículo a construção de inúmeros cenários para o Ateliê de Coreógrafos do Teatro Castro Alves, para filmes como Cidade Baixa, Jardim das Folhas Sagradas, Eu me lembro, além de diversos comerciais, encenações da Semana Santa, entre outros.

Apesar de trabalhar muitas horas por dia em seu ateliê, no Forte do Barbalho, em Salvador, ele investe seu tempo também criando peças que antes eram só um passatempo, mas que se tornariam obras únicas, revelando traços particulares do cenógrafo que se descobriu artista.

Utilizando madeiras como Angelim, Pau D'arco, Peroba Rosa, Jacarandá, Cedro, Ipê, Pau Brasil, doadas por amigos ou resgatadas da rua para servirem de matéria-prima, Gringo entalha, dá forma, agrega materiais e, após cerca de três meses trabalhando na peça, fica satisfeito ao ver o resultado. "Utilizo, muitas vezes, mais de um tipo de madeira em uma obra, elaborando composições possíveis. Mesmo considerada morta, ela tem vida por dentro e responde a cada intervenção, revelando texturas, cores", explica o artista que tem como inspiração as obras de Bené Fonteles - que induzem a pensar e querer pegar, a olhar mais de uma vez - e o trabalho em madeira dos irmãos Campana.

A curadora da exposição, Raquel Mascarenhas, explica que uma característica do trabalho de Gringo é o encontro entre elementos. "Ele usa partes de madeiras e materiais diferentes na mesma obra, mas que se encontram sempre forma sutil, tangente. Também há a presença das formas geométricas como condutoras do encontro que se mostra possível, dialógico", explica.

As esculturas buscam refletir sua percepção do universo em movimento e do equilíbrio no aparente caos. Por isso, ele não busca a perfeição de cada obra, deixando, por exemplo, algumas ranhuras próprias da madeira. "Faço as obras de modo que não pareçam uma peça perfeita, completamente bem acabada. Quero manter a identidade da madeira como um organismo ainda vivo que deu possibilidade de se moldar. Isso leva a pessoa a olhar para a escultura, a se perguntar como foi feita e o que era antes de se tornar aquilo", revelou Gringo, que também preza pelo movimento, outra característica presente em seus trabalhos.


Em visita ao seu ateliê, a equipe da SecultBA foi a primeira a ver as obras já prontas para serem retidas do local de onde nunca saíram. O destino - o Palácio Rio Branco - é onde a exposição fica em cartaz até o dia 05 de julho, seguindo depois para outros espaços. "Para quem trabalha com máquinas e martelo, construindo móveis para cenários, construir peças delicadas, que exigem tato, é algo que pode surpreender. Muita gente vai dizer: não sabia que Gringo era artista", ri, entusiasmado com a possibilidade de expor ao público o que faz para satisfazer a si mesmo. 

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