Foto Rosilda Cruz
Depois de participar de produções como o filme Cidade Baixa, o cenógrafo Cláudio Freitas se dedica às esculturas
Madeira,
vidro, cobre, conchas, gudes, lâminas de ouro. Com esses materiais (e
outros que inspirem), o cenógrafo soteropolitano de 57 anos, Cláudio
Freitas - conhecido
como Gringo - elaborou as esculturas que compõem sua primeira
exposição, "Corpos Tangíveis", em cartaz a partir de hoje (05/05), no
Palácio Rio Branco. "Raio", "Olho de Hórus", "Planos", estão entre as 17
esculturas inéditas, vistas antes apenas pelos amigos
mais íntimos.
"Quando
eu vi aquelas esculturas no ateliê, aquilo me chamou atenção. A madeira
é uma matéria muito enigmática e a maneira com que ele a transforma é
surpreendente. Quando
surgiu a oportunidade de fazer a exposição no Palácio, lembrei logo
dele", conta a produtora da exposição, Megg Chaves.
Com
27 anos de carreira, Gringo é autodidata e tem no currículo a
construção de inúmeros cenários para o Ateliê de Coreógrafos do Teatro
Castro Alves, para filmes como
Cidade Baixa, Jardim das Folhas Sagradas, Eu me lembro, além de diversos comerciais, encenações da Semana Santa, entre outros.
Apesar
de trabalhar muitas horas por dia em seu ateliê, no Forte do Barbalho,
em Salvador, ele investe seu tempo também criando peças que antes eram
só um passatempo,
mas que se tornariam obras únicas, revelando traços particulares do
cenógrafo que se descobriu artista.
Utilizando
madeiras como Angelim, Pau D'arco, Peroba Rosa, Jacarandá, Cedro, Ipê,
Pau Brasil, doadas por amigos ou resgatadas da rua para servirem de
matéria-prima, Gringo
entalha, dá forma, agrega materiais e, após cerca de três meses
trabalhando na peça, fica satisfeito ao ver o resultado. "Utilizo,
muitas vezes, mais de um tipo de madeira em uma obra, elaborando
composições possíveis. Mesmo considerada morta, ela tem vida
por dentro e responde a cada intervenção, revelando texturas, cores",
explica o artista que tem como inspiração as obras de Bené Fonteles -
que induzem a pensar e querer pegar, a olhar mais de uma vez - e o
trabalho em madeira dos irmãos Campana.
A
curadora da exposição, Raquel Mascarenhas, explica que uma
característica do trabalho de Gringo é o encontro entre elementos. "Ele
usa partes de madeiras e materiais
diferentes na mesma obra, mas que se encontram sempre forma sutil,
tangente. Também há a presença das formas geométricas como condutoras do
encontro que se mostra possível, dialógico", explica.
As
esculturas buscam refletir sua percepção do universo em movimento e do
equilíbrio no aparente caos. Por isso, ele não busca a perfeição de
cada obra, deixando, por exemplo, algumas ranhuras próprias da
madeira. "Faço as obras de modo que não pareçam uma peça perfeita,
completamente bem acabada. Quero manter a identidade da madeira como um
organismo ainda vivo que deu possibilidade de se
moldar. Isso leva a pessoa a olhar para a escultura, a se perguntar
como foi feita e o que era antes de se tornar aquilo", revelou Gringo,
que também preza pelo movimento, outra característica presente em seus
trabalhos.
Em
visita ao seu ateliê, a equipe da SecultBA foi a primeira a ver as
obras já prontas para serem retidas do local de onde nunca saíram. O
destino - o Palácio Rio Branco - é onde a
exposição fica em cartaz até o dia 05 de julho, seguindo depois para outros espaços.
"Para quem trabalha com máquinas e martelo, construindo móveis
para cenários, construir peças delicadas, que exigem tato, é algo que
pode surpreender. Muita gente vai dizer: não sabia que Gringo era
artista", ri, entusiasmado com a possibilidade de expor
ao público o que faz para satisfazer a si mesmo.
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