Foto: Murillo Meirelles.
Show acontece dia 26 de maio na Concha
Acústica do TCA e os ingressos já estão à venda
O cantor e
compositor Djavan volta a Salvador com o show "Vidas pra
contar", no dia 26 de maio, às 19h na Concha Acústica do TCA. A
turnê, que desde o inicio de 2016 já percorreu mais
de 40 cidades do Brasil e do exterior, inclusive em Salvador,
com duas apresentações tendo recorde de público em maio/16, traz em seu
repertório além das canções do novo disco, sucessos do artista
alagoano. Djavan conquistou o quarto Grammy Latino
de sua trajetória, no ano passado, na categoria melhor
canção em português com a música que dá título ao último trabalho e ao show.
Na edição anterior da premiação quando completou 40 anos de
carreira foi contemplado com o troféu na
categoria Excelência Musical pelo conjunto de sua obra.
Entre as
canções confirmadas no roteiro estão "Não é um Bolero" e
"Encontrar-te", do último álbum e as
clássicas "Oceano", "Outono", "Boa
Noite", "Eu te Devoro", dentre outras. A última
etapa da turnê que se encerra em julho deste ano vai passar ainda por
Campinas, São Paulo, São Bernardo do Campo, São Carlos, Londrina,
Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Recife e a cidade de Feira de
Santana (interior da Bahia), além de outras que serão anunciadas em breve.
Acompanhado
por Carlos Bala (bateria), Jessé Sadoc (flügelhorn, trompete e vocal),
Marcelo Mariano (baixo e vocal), Marcelo Martins (flauta, saxofone e
vocal),
Paulo Calasans (teclados e piano) e João Castilho (guitarras, violões e
vocal) o artista é quem assina a direção do espetáculo que tem
iluminação de Binho
Schaefer e figurino de Roberta Stamato.
"Existe
entre nós, eu e os músicos, um código musical que permite voos para todas
as direções e isto é uma coisa que me ajuda muito, uma vez que persigo sempre
a diversidade. Eu acho que a diversidade me impõe a estar sempre correndo
riscos, e eu preciso disso", conta o
músico.
O cenário
da turnê, concebido por Suzane Queiroz foi desenhado a partir do
conceito de que a vida de cada pessoa é um grande livro em branco que vai sendo
preenchido linha por linha, página por página a cada alegria, a cada tristeza,
a cada conquista, a cada novo amor que chega e que parte, ao longo do tempo.
Sobre o álbum "Vidas pra contar"
Pode-se
começar a audição de "Vidas pra contar" pulando a primeira faixa,
assim, apenas como um exercício de análise. E vai-se encontrar um Djavan
exercitando no limite o seu estilo consagrado. "Só pra ser o sol" é
uma daquelas canções matadoras, de tocar no rádio a vida inteira (e sempre
soando nova), de grudar no ouvido. Calcada na linha de baixo de Marcelo Mariano
e com desenhos inusitados do naipe de sopros tocado por Jessé Sadoc (trompete)
e Marcelo Martins (sax tenor), a canção logo conquista pela fluência melódica
dentro de uma estrutura harmônica surpreendente, cheia de modulações. E pela
letra, a poética de Djavan burilada como só ele faz, o uso de gírias
("uhu") em meio a imagens inusitadas (como a da moça revirando o
armário): "Uhu, você disse que vinha e veio/Não acreditei/E cheguei a
tremer/Pensei em você virando armário/Pra chegar em mim/Que bom! Te ver/Tão
linda e desejada".
Agora pense
na última vez que ouviu uma canção pop tão bem feita no sentido técnico, tão
fácil de ouvir e mesmo assim tão diferente de tudo, como essa descrição do
espanto do homem diante da beleza da mulher por quem está apaixonado.
Mas pode-se
começar a audição, num outro exercício de análise, como deve ser, pela primeira
faixa. E aí vai-se encontrar um Djavan diferente do esperado, exercitando-se
num outro estilo, só na aparência menos pessoal. O xote "Vida
nordestina" traz o compositor dialogando com uma das suas influências mais
importantes embora das menos explícitas, Luiz Gonzaga. E a música tem a
simplicidade de Gonzaga, com aquele tipo de melodia que parece ter sempre
existido mas que foi criada solidamente por um compositor. "Vida
nordestina" nasce assim, clássica, e com uma letra que Humberto Teixeira,
sei não, até assinaria, sobretudo no paradoxo que propõe ao afirmar logo nos
primeiros versos, "A vida não é de festa/Para o povo do sertão" e,
alguns versos abaixo, poeticamente negar a própria afirmação: "Mas quando
é dia de festa/Todo povo do sertão/Dança para aparar as arestas/Do coração/As
moças já tão bonitas/Ficam lindas como quê/E o homem nem acredita/No que
vê".
Agora pense
na última vez que ouviu uma canção nordestina tão típica e ao mesmo tempo
estranhamente original. Como aliás é a vida no sertão ou qualquer vida,
original e sempre a mesma. Ou, como na letra de "Vida nordestina":
"Até o lar onde falta o pão/Tem lá seus dias de alegria".
"Vidas
pra contar", vigésimo terceiro disco de Djavan, conta vidas assim, reais
mas sob o filtro da poesia, do espanto pelo detalhe. E revela um compositor tão
maduro que consegue ser pessoal seja exercitando seu estilo consagrado, como em
"Só pra ser o sol", seja experimentando outras linguagens, como em
"Vidas pra contar".
Tal
maturidade leva Djavan a exercer seu estilo tão marcante em gêneros diversos de
música popular - lembrando que sua primeira educação musical foi, ainda menino
em Maceió, na eclética coleção de discos do pai de um amigo de colégio e nos
programas de auditório não menos ecléticos da Rádio Nacional, que ouvia com a
mãe. Aliás, a canção autobiográfica "Dona do horizonte" narra
exatamente essa relação de Djavan com a música a partir da influência da
mãe que o fez ouvir Orlando Silva, "Dalva de Oliveira e Angela Maria/Todo
dia...".
No passeio
por estilos da música popular, "Ânsia de viver" é um samba sincopado
típico de Djavan, que nos lembra ser ele autor de clássicos do gênero
("Flor-de-lis", "Fato consumado", etc.). "Não é um
bolero" é um bolero estilizado na música e um bolero típico na letra que
lamenta a ausência de amor: "Não é um bolero/É amor sincero/Que a tudo resiste/Não
a ter ao lado/Me deixa abalado/E nada é mais triste/A vida é à toa/Não fica de
boa/Quem não tem um querer". "Se não vira jazz" dialoga com o
próprio jazz no peso da introdução instrumental, na forma livre de cantar (com
direito a leves improvisos) e na complexidade harmônica, para uma letra que é o
oposto do bolero, uma celebração do reencontro e do amor de verdade:
"Viver é bom demais/Quando o amor está incluso/É um abuso de
perfeição". Já "Vidas pra contar" é uma, ainda que
originalíssima, canção de influência ibérica, com toques flamencos, lembrando
essa importante herança deixada para a música brasileira, especialmente no
Nordeste.
Se "O
tal do amor" dialoga com as valsas francesas, e é leve na música para
embalar uma letra levíssima ("Sorrir para mim/É quase um jardim/Onde pássaros
voam"), "Encontrar-te" é uma daquelas densas baladas de amor com
vocação para standard (senão ouçam a introdução do trompete de Jessé Sadoc,
emulando as grandes canções de amor de Gershwin ou Jobim), enquanto
"Primazia" situa-se num meio terno, é uma canção de amor, quase um
fox-trot, leve como a valsa e densa como a balada. Juntas, as três canções
formam uma curiosa trilogia que revela, ao cabo, a habilidade de Djavan em
falar de amor nas diversas formas de canção, sendo sempre fiel ao seu estilo.
Outras duas
canções de "Vidas pra contar" podem ser agrupadas num outro possível
conjunto, um díptico em que o diálogo não se dá propriamente com gêneros
tradicionais da música popular, mas com o próprio estilo de Djavan.
"Aridez" é daquelas canções que prescindem de assinatura, na música
acelerada, exuberante, inclassificável e na letra com aquela forma tão própria
de Djavan em falar de amor: "Atravesso o deserto escuro/Pra fugir da
solidão/Você que é meu farol/Não deixe eu me perder, não/É você quem há de me
tirar/Dessa tremenda aridez". De sabor jazzístico, "Enguiçado" é
uma observação crítica sobre o comportamento humano: "Tanto nego
errado/Enguiçado/Dado a viver/Com a coisa errada/Inclinado a tudo ceder/Se bem
combinado/Em qualquer lado pode estar".
A
atordoante diversidade musical, que confirma a potencialidade criativa de
Djavan, é transformada em linguagem musical pela banda que o acompanha e pelos
arranjos do próprio compositor. Pode-se dizer que "Vidas pra contar"
é um disco de Djavan e banda, o núcleo rítmico composto por piano (e teclados)
de Paulo Calasans, baixo de Marcelo Mariano e bateria de Carlos Bala, além de
violões e guitarras de João Castilho e do próprio Djavan e sopros de Jessé
Sadoc e Marcelo Martins. Cantor, compositor, letrista, guitarrista e
arranjador em todas as faixas, Djavan tem nessa banda de virtuoses a sua voz
musical: uma voz que ao mesmo tempo esbanja estilo e por outro conversa com
toda a tradição da música popular em que sua mãe o introduziu ainda na
infância. Com cuidado e carinho de quem canta para a própria mãe (como confessa
em "Dona do horizonte": "Cantava ali só para ela
ouvir") é assim que Djavan parece cantar neste "Vidas pra
contar".
Serviço:
Data: 26 de maio (sexta)
Local: Concha Acústica do Teatro
Castro Alves
Abertura dos portões: 17h30m
Horário do show: 19h
Informações: (71) 3003-0595
Valores: Platéia - R$ 50 (meia)
/ R$ 100 (inteira) | Camarote – R$ 100 (meia) / R$ 200
(inteira)
Vendas: Bilheterias do TCA, SAC´s
Barra e Bela Vista e site Ingresso Rápido
Classificação: 14 anos
Realização: Íris Produções
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