28/05/2019

Documentário sobre negritude na Argentina motiva encontro em torno do empoderamento de mulheres negras através do erótico


Vivências de ativistas se revezam com exibição de trechos do filme “Buenos Aires Black”, dirigido pelo argentino Segundo Bercetche, residente do Programa de Residência Artística Vila Sul do Goethe-Institut, e pela norte-americana Diane Ghogomu

“Corpo e Alma: uma vivência corporal e audiovisual sobre o uso do erótico como poder na vida das mulheres negras” é o evento que ocupará o Teatro do Goethe-Institut Salvador-Bahia na próxima terça-feira, 4 de junho, às 19h. A ação é parte do projeto de produção do documentário “Buenos Aires Black”, produzido e dirigido em dupla pelo cineasta argentino Segundo Bercetche, atual residente do Programa de Residência Artística Vila Sul do Goethe-Institut, e pela cineasta e ativista norte-americana Diane Ghogomu, que também se encontra em Salvador. Na ocasião, serão exibidas partes do filme, que tenta responder o que significa ser negro em uma cidade que foi treinada para enterrar sua própria negritude. Os trechos serão intercalados com vivências e fala coletiva encabeçadas pela própria Diane Ghogomu e pelas convidadas: a àlárìnjó Laís Machado, a pesquisadora Léa Santana, a terapeuta corporal May Irineu e a artista do corpo Nefertiti Charlene Altan. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é de 18 anos.

A inspiração para o tema da atividade vem do que disse Audre Lorde (1934-1992), ativista e teórica negra e lésbica, em um discurso em 1984. Ela mencionou um ponto na vida das mulheres pretas que poderia funcionar como ferramenta do empoderamento: o uso do erótico como poder. “Há muitos tipos de poder: os que são utilizáveis e os que não são, os reconhecidos e os desconhecidos. O erótico é um recurso que mora no interior de nós mesmas, assentado em um plano profundamente feminino e espiritual, e firmemente enraizado no poder de nossos sentimentos não pronunciados e ainda por reconhecer”, afirmou Lorde. “Para se perpetuar, toda opressão deve corromper ou distorcer as fontes de poder inerentes à cultura das pessoas oprimidas, fontes das quais pode surgir a energia da mudança. No caso das mulheres, isso se traduziu na supressão do erótico como fonte de poder e informação em nossas vidas”, concluía ela.

Segundo Bercetche e Diane Ghogomu trabalham juntos desde 2014, realizando projetos de filmes-documentários que têm como ponto de partida pesquisas acadêmicas e sociais. Em Salvador, buscam levar para “Buenos Aires Black” um contraponto brasileiro à tese ambientada no contexto da capital portenha.

Assim, a discussão vai girar em torno de questões como: como retomar imagens e corpos para que mulheres negras voltem a ser sujeitos de suas próprias vidas? Depois de uma objetificação constante televisionada e no cotidiano, bem como da exploração do corpo negro feminino na escravidão e no trabalho doméstico, como o poder do erótico pode lhes trazer esta sensação de autonomia? Como restituir poder e paz com o corpo e a sensualidade? Como viver com mais plenitude a própria criatividade, a espontaneidade e os desejos mais profundos?

É recomendado que o público compareça com roupas leves, para mover-se nas atividades. Quem desejar também pode contribuir com um objeto ao altar que será construído.

PARTICIPANTES
Segundo Bercetche – Desenvolveu carreira como músico e compositor, tendo lançado cinco álbuns sob o nome de Siro Bercetche e sendo membro do Lujo Asiático. Daí, começou a fazer videoclipes para si mesmo e acabou fazendo mais de 20 videoclipes para artistas locais e internacionais. O trabalho no documentário “Buenos Aires Rap” (2014) despertou seu amor pelo gênero. Também filmou “No va llegar” (2017), estrelado pelo bandoneonista Tomi Lebrero e sua jornada épica pela Argentina a cavalo. Atualmente, está trabalhando com Diane Ghogomu no filme “Buenos Aires Black”. Também está trabalhando com Carla Sanguineti num documentário de auto-observação de um músico de Buenos Aires lutando contra a crise política, econômica, industrial e emocional, enquanto tenta entender a relação entre arte, trabalho e internet.

Diane Ghogomu – Codiretora de “Buenos Aires Rap” (2014) e de “Buenos Aires Black” (em progresso), ao lado de Segundo Bercetche. Além de cineasta, Ghogomu é educadora sexual somática e teórica do prazer na Tulane University.

Laís Machado – Alárìnjó feminista, pesquisadora, crítica e produtora, formada pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (ETUFBA). Membro-fundadora da ÀRÀKÁ – Plataforma de Criação em Arte; ex-integrante do Teatro Base (2011-2017); membro-fundadora da Revista Barril, onde atuou como colunista e designer (2016-2017). Desenvolve estudos feministas sobre a cosmogonia Yorubá, sobre transe e fluxo como meio de produção de presenças e um estudo decolonial da cena experimental.

Léa Santana - Doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades da Universidade Federal da Bahia (NUCUS/UFBA).

May Irineu – Possui 14 anos de experiência com as terapias corporais. Há oito anos, se desenvolve e atende com a terapia-massagem Tântrica, bem como conduz cursos e workshops de massagem Tântrica e meditação ativa. Viveu dois anos em Lisboa, Portugal, estudando e trabalhando com terapias corporais. O foco da sua partilha está no despertar de uma nova sexualidade humana, no potencial do conhecimento pessoal, na ativação dos recursos internos, em prol da saúde física, emocional e espiritual.

Nefertiti Charlene Altan – Mulher afro-indígena da Califórnia de descendência Guatemalteca. Mora em Salvador há seis anos, atuando como artista do corpo com o coletivo Deslimites e com a ÀRÀKÁ – Plataforma de Criação em Arte. É gestora cultural da Casa Rosada e percussionista com as Mestras do Saber, sob a direção de mestra Monica Millet e o Maracatu Ventos de Ouro. É performer-álàrínjò da obra “Quaseilhas”, de Diego Pinheiro, e foi curadora-performer do projeto “Corpo em Casa”. Militante do feminismo, antirracismo e anticapitalismo, foi coordenadora do Centro de Formação Nacional para Líderes de Movimentos Sociais nos EUA.

Sobre o Goethe-Institut Salvador-Bahia – Instituto cultural da República Federal da Alemanha, o Goethe-Institut, fundado em 1951, se dedica a fomentar o diálogo entre culturas e é a maior instituição de ensino de alemão no mundo. Atualmente, dispõe de uma rede de 159 unidades em 98 países de todos os continentes. A unidade do Goethe-Institut Salvador-Bahia foi criada em 1962 e, desde então, promove a aprendizagem da língua alemã, divulga uma imagem abrangente da Alemanha e realiza colaborações locais, nacionais e internacionais na área da cultura, com numerosos parceiros públicos e privados. É um espaço disposto ao exercício artístico-cultural, realizando ações próprias e oferecendo suporte a iniciativas de variadas espécies. Dispõe de teatro, foyer, galerias, biblioteca, ateliês, estúdios, salas de aulas, praças, pátio e café. Após mais de meio século de atividades contínuas na cidade, iniciou, em 2016, o Programa de Residência Artística Vila Sul, com a proposta de fortalecer interlocuções entre o Brasil e demais países do hemisfério Sul a partir do acolhimento de artistas e agentes culturais de diversas áreas, linguagens e origens. Mais de 60 residentes já experimentaram esta oportunidade.

“Corpo e Alma: uma vivência corporal e audiovisual sobre o uso do erótico como poder na vida das mulheres negras”
·         Exibição de trechos do documentário “Buenos Aires Black”, de Segundo Bercetche e Diane Ghogomu
·         Vivências e fala coletiva encabeçadas por Diane Ghogomu, Laís Machado, Léa Santana, May Irineu e Nefertiti Charlene Altan
Quando: 4 de junho de 2019 (terça-feira), 19h
Onde: Teatro do Goethe-Institut Salvador-Bahia
(Av. Sete de Setembro, 1809 – Corredor da Vitória)
Entrada franca
Classificação indicativa: 18 anos

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