Vivências de ativistas se revezam com exibição de trechos do filme “Buenos Aires Black”, dirigido pelo argentino Segundo Bercetche, residente do Programa de Residência Artística Vila Sul do Goethe-Institut, e pela norte-americana Diane Ghogomu
“Corpo e Alma: uma vivência corporal e audiovisual sobre o uso do erótico como poder na vida das mulheres negras” é o evento que ocupará o Teatro do Goethe-Institut Salvador-Bahia na próxima terça-feira, 4 de junho, às 19h. A ação é parte do projeto de produção do documentário “Buenos Aires Black”, produzido e dirigido em dupla pelo cineasta argentino Segundo Bercetche, atual residente do Programa de Residência Artística Vila Sul do Goethe-Institut, e pela cineasta e ativista norte-americana Diane Ghogomu, que também se encontra em Salvador. Na ocasião, serão exibidas partes do filme, que tenta responder o que significa ser negro em uma cidade que foi treinada para enterrar sua própria negritude. Os trechos serão intercalados com vivências e fala coletiva encabeçadas pela própria Diane Ghogomu e pelas convidadas: a àlárìnjó Laís Machado, a pesquisadora Léa Santana, a terapeuta corporal May Irineu e a artista do corpo Nefertiti Charlene Altan. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é de 18 anos.
A inspiração para o tema da atividade vem do que disse Audre Lorde (1934-1992), ativista e teórica negra e lésbica, em um discurso em 1984. Ela mencionou um ponto na vida das mulheres pretas que poderia funcionar como ferramenta do empoderamento: o uso do erótico como poder. “Há muitos tipos de poder: os que são utilizáveis e os que não são, os reconhecidos e os desconhecidos. O erótico é um recurso que mora no interior de nós mesmas, assentado em um plano profundamente feminino e espiritual, e firmemente enraizado no poder de nossos sentimentos não pronunciados e ainda por reconhecer”, afirmou Lorde. “Para se perpetuar, toda opressão deve corromper ou distorcer as fontes de poder inerentes à cultura das pessoas oprimidas, fontes das quais pode surgir a energia da mudança. No caso das mulheres, isso se traduziu na supressão do erótico como fonte de poder e informação em nossas vidas”, concluía ela.
Segundo Bercetche e Diane Ghogomu trabalham juntos desde 2014, realizando projetos de filmes-documentários que têm como ponto de partida pesquisas acadêmicas e sociais. Em Salvador, buscam levar para “Buenos Aires Black” um contraponto brasileiro à tese ambientada no contexto da capital portenha.
Assim, a discussão vai girar em torno de questões como: como retomar imagens e corpos para que mulheres negras voltem a ser sujeitos de suas próprias vidas? Depois de uma objetificação constante televisionada e no cotidiano, bem como da exploração do corpo negro feminino na escravidão e no trabalho doméstico, como o poder do erótico pode lhes trazer esta sensação de autonomia? Como restituir poder e paz com o corpo e a sensualidade? Como viver com mais plenitude a própria criatividade, a espontaneidade e os desejos mais profundos?
É recomendado que o público compareça com roupas leves, para mover-se nas atividades. Quem desejar também pode contribuir com um objeto ao altar que será construído.
PARTICIPANTES
Segundo Bercetche – Desenvolveu carreira como músico e compositor, tendo lançado cinco álbuns sob o nome de Siro Bercetche e sendo membro do Lujo Asiático. Daí, começou a fazer videoclipes para si mesmo e acabou fazendo mais de 20 videoclipes para artistas locais e internacionais. O trabalho no documentário “Buenos Aires Rap” (2014) despertou seu amor pelo gênero. Também filmou “No va llegar” (2017), estrelado pelo bandoneonista Tomi Lebrero e sua jornada épica pela Argentina a cavalo. Atualmente, está trabalhando com Diane Ghogomu no filme “Buenos Aires Black”. Também está trabalhando com Carla Sanguineti num documentário de auto-observação de um músico de Buenos Aires lutando contra a crise política, econômica, industrial e emocional, enquanto tenta entender a relação entre arte, trabalho e internet.
Diane Ghogomu – Codiretora de “Buenos Aires Rap” (2014) e de “Buenos Aires Black” (em progresso), ao lado de Segundo Bercetche. Além de cineasta, Ghogomu é educadora sexual somática e teórica do prazer na Tulane University.
Laís Machado – Alárìnjó feminista, pesquisadora, crítica e produtora, formada pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (ETUFBA). Membro-fundadora da ÀRÀKÁ – Plataforma de Criação em Arte; ex-integrante do Teatro Base (2011-2017); membro-fundadora da Revista Barril, onde atuou como colunista e designer (2016-2017). Desenvolve estudos feministas sobre a cosmogonia Yorubá, sobre transe e fluxo como meio de produção de presenças e um estudo decolonial da cena experimental.
Léa Santana - Doutora em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gêneros e Sexualidades da Universidade Federal da Bahia (NUCUS/UFBA).
May Irineu – Possui 14 anos de experiência com as terapias corporais. Há oito anos, se desenvolve e atende com a terapia-massagem Tântrica, bem como conduz cursos e workshops de massagem Tântrica e meditação ativa. Viveu dois anos em Lisboa, Portugal, estudando e trabalhando com terapias corporais. O foco da sua partilha está no despertar de uma nova sexualidade humana, no potencial do conhecimento pessoal, na ativação dos recursos internos, em prol da saúde física, emocional e espiritual.
Nefertiti Charlene Altan – Mulher afro-indígena da Califórnia de descendência Guatemalteca. Mora em Salvador há seis anos, atuando como artista do corpo com o coletivo Deslimites e com a ÀRÀKÁ – Plataforma de Criação em Arte. É gestora cultural da Casa Rosada e percussionista com as Mestras do Saber, sob a direção de mestra Monica Millet e o Maracatu Ventos de Ouro. É performer-álàrínjò da obra “Quaseilhas”, de Diego Pinheiro, e foi curadora-performer do projeto “Corpo em Casa”. Militante do feminismo, antirracismo e anticapitalismo, foi coordenadora do Centro de Formação Nacional para Líderes de Movimentos Sociais nos EUA.
Sobre o Goethe-Institut Salvador-Bahia – Instituto cultural da República Federal da Alemanha, o Goethe-Institut, fundado em 1951, se dedica a fomentar o diálogo entre culturas e é a maior instituição de ensino de alemão no mundo. Atualmente, dispõe de uma rede de 159 unidades em 98 países de todos os continentes. A unidade do Goethe-Institut Salvador-Bahia foi criada em 1962 e, desde então, promove a aprendizagem da língua alemã, divulga uma imagem abrangente da Alemanha e realiza colaborações locais, nacionais e internacionais na área da cultura, com numerosos parceiros públicos e privados. É um espaço disposto ao exercício artístico-cultural, realizando ações próprias e oferecendo suporte a iniciativas de variadas espécies. Dispõe de teatro, foyer, galerias, biblioteca, ateliês, estúdios, salas de aulas, praças, pátio e café. Após mais de meio século de atividades contínuas na cidade, iniciou, em 2016, o Programa de Residência Artística Vila Sul, com a proposta de fortalecer interlocuções entre o Brasil e demais países do hemisfério Sul a partir do acolhimento de artistas e agentes culturais de diversas áreas, linguagens e origens. Mais de 60 residentes já experimentaram esta oportunidade.
“Corpo e Alma: uma vivência corporal e audiovisual sobre o uso do erótico como poder na vida das mulheres negras”
· Exibição de trechos do documentário “Buenos Aires Black”, de Segundo Bercetche e Diane Ghogomu
· Vivências e fala coletiva encabeçadas por Diane Ghogomu, Laís Machado, Léa Santana, May Irineu e Nefertiti Charlene Altan
Quando: 4 de junho de 2019 (terça-feira), 19h
Onde: Teatro do Goethe-Institut Salvador-Bahia
(Av. Sete de Setembro, 1809 – Corredor da Vitória)
Entrada franca
Classificação indicativa: 18 anos
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